quinta-feira, 9 de julho de 2009

War on Drug [Andean Terror]


O título do artigo de Bruce Barcott no New York Times Magazine de 7 de abril de 2002 – ‘A cor do terrorismo doméstico é verde’ – disse tudo: não os fundamentalistas da direita provavelmente responsáveis pelos atentados com antraz, mas os ‘verdes’ que nunca mataram um ser humano. Slavoj Zizek acrescentou, em seu livro ‘Bem-vindo ao Deserto do Real’, a mensagem das campanhas na TV americana contra as drogas na primavera de 2002: ‘quando você compra drogas, está oferecendo dinheiro para os terroristas’. Richard Nixon foi o primeiro presidente norte-americano a declarar war on drug, mas depois de um aumento explosivo do uso de crack nos Estados Unidos, em 1989, George Bush identificou a cocaína como ‘o nosso problema mais sério’. Recentemente, Barack Obama eliminou a Bolívia de um programa pró-exportações aos EUA, porque Evo Morales falhou no combate às drogas, pois a lei boliviana não só permite o cultivo legal de coca como estendeu a sua área. Muito antes disso, na administração Ronald Reagan [1980-1988] as drogas foram definidas como um problema de segurança nacional, este combate deveria ser acompanhado de um ataque in locus à oferta de drogas, isto é, atacar a produção na sua fonte em países como Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.

A política de going to the source – ir à fonte – encontrou uma base empírica no Chapare da Bolívia e no Alto Huallaga do Peru, aonde chegou a se cultivar entre 80 a 90% das folhas de coca que alimentavam a produção de cocaína do mundo, conforme o artigo escrito por Rafael Duarte Villa, intitulado “Os Países Andinos: tensões e realidades domésticas e exigências externas”. Com efeito, após o ‘11 de setembro’ este objetivo tornou-se mais explícito, com o combate o narcotráfico, a guerrilha e os grupos paramilitares de atuação ativa na Colômbia, o governo W. Bush agiu indiferenciadamente contra todos esses grupos atuantes na região andina, logo a ‘guerra às drogas’ significou também ‘guerra ao terrorismo’. Pressões dos governos dos EUA e de Álvaro Uribe da Colômbia se endereçaram aos vizinhos andinos, assim como o Brasil, para certificarem grupos como as FARC de terroristas, embora o governo de Lula e o de Chávez tenham resistido a esses pedidos de certificação terrorista.

O foco de irradiação das tensões localiza-se na Colômbia, principalmente após o governo de Pastrana, que autorizou às FARC o controle de um território do tamanho da Suíça, utilizado como plataforma de lançamento de ações armadas, sequestros e áreas de cultivo de coca, que facilitou a cooperação com o narcotráfico. Origem do ‘Plano Colômbia’, com forte apoio de Bill Clinton e de W. Bush, ao dirigir recursos financeiros aos países andinos que se sujeitarem a um conjunto de regras. A National Drug Control Strategy de George Bush transformou-se na Estratégia Andina, que condensa quatro pontos principais: [1] fortalecimento das instituições políticas da Bolívia, Colômbia e Peru; [2] operacionalização de unidades militares e policiais encarregadas para combater o circuito de drogas e erradicar cultivos, destruir os laboratórios, detectar as rotas, penalizar a lavagem de dinheiro; [3] assessoramento militar e policial direto aos países andinos para desmantelar cartéis colombianos e firmas do tráfico peruanas; [4] assistência comercial e fiscal aos países andinos para atenuar as consequências sociais de privação dos meios de subsistência de comunidades locais.

Se durante a década de 1990 e no início da década de 2000 os países andinos se transformaram no principal foco de instabilidade política do continente, foi por causa desta intensiva militarização estratégica norte-americana. Instabilidade que se justifica nos Andes, talvez, porque a Bolívia é produtora de folha de coca em regiões como Yunga e Chapare; o Peru também é produtor e exportador de folha de coca, o que gera conflitos violentos entre os cartéis da droga e o exército, bem como entre grupos da população de algumas regiões como o Alto Huallaga; a Colômbia é um país de cultivo de folha de coca, de refino de pasta e de exportação da cocaína, gerando violência entre atores armados como as guerrilhas, narcotraficantes e paramilitares; o Equador foi acusado de ser a principal rota por onde circulam as remessas de cocaína direcionadas aos mercados do norte e, enfim, na Venezuela, uma rota de fuga foi sinalizada para as exportações ilícitas de cocaína e foi vista também como um lugar importante de lavagem de dinheiro que provém do narcotráfico. Entretanto, essas plantações de coca na superfície montanhosa dos Andes não conseguiram esconder o poder das suas fontes subterrâneas, até 1996, quatro dos cinco países da Comunidad Andina de Naciones se autoabasteciam e eram exportadores de petróleo, em ordem de importância: Venezuela, Equador, Colômbia e Peru.

Todos esses países compartilham o mercado de destino dos EUA, afora a Bolívia que explora e exporta gás natural, cujo principal cliente é o governo brasileiro. Portanto, Elliot Abrams escreveu, em seu artigo ‘The American Hemisphere after the Cold War’, que os interesses norte-americanos transcendem o controle de narcóticos, com o seguinte argumento, o acesso continuado da produção crescente de petróleo da região andina é necessário para diminuir a dependência dos Estados Unidos em relação ao petróleo do Oriente Médio.

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