sexta-feira, 10 de julho de 2009

Invasão de Uribe à Selva Equatoriana [01/03/08]


Criar o pânico é exatamente o que os terroristas querem fazer, o seu objetivo político não é atingido pelo ato de matar, mas pela publicidade dada aos seus atos. O perigo real do terrorismo está no medo irracional que seus atos provocam, encorajados pela imprensa e por governos insensatos – esse é o grande perigo, certamente maior que o dos pequenos grupos de terroristas, afirmou Eric Hobsbawm em seu livro “Globalização, Democracia e Terrorismo”. As reportagens de Daniel Bergamasco, Luis Kawaguti, Samy Adghirni, Fabiano Maisonnave [Folha de São Paulo] contribuíram para as análises de um acontecimento nos Andes, no dia 01 de março de 2008: uma incursão militar colombiana no território equatoriano, que resultou na morte de mais de 20 guerrilheiros, dentre eles Raúl Reyes – o número dois das FARC.

De um lado, Camilo Ospina [embaixador colombiano] defendeu a legitimidade do ataque, por servir à luta contra as FARC, que são favorecidas por Equador e Venezuela, segundo ele, seu país denunciaria Hugo Chávez na Corte Penal Internacional por ‘financiamento direto de grupos terroristas’. Por outro lado, para Maria Isabel Salvador, ministra das Relações Exteriores do Equador, o território e a soberania do Equador foram objeto de uma violação premeditada. Assim, o ataque militar da Colômbia ao acampamento de Raúl Reyes na selva equatoriana, sem autorização de Quito, trouxe à tona o debate sobre a legislação internacional relacionado à oposição entre a soberania territorial e o direito de defesa. Se o governo equatoriano acusou a Colômbia por infringir um princípio elementar, garantido pela ONU, das normas legais internacionais de respeito à integridade territorial; Bogotá considerou o seu ataque preventivo como um ato de defesa contra um grupo terrorista, considerado como tal pelos EUA, União Européia e pela própria Colômbia.

Para justificar a invasão do território equatoriano, o governo de Uribe citou as resoluções 1368 e 1373 do Conselho de Segurança da ONU, que amparam o ‘ataque preventivo’ como um direito de defesa em caso de agressão ou agressão iminente, conforme em 2001, com a ofensiva militar dos EUA no Afeganistão. Além disso, a Colômbia acusava Hugo Chávez de ter enviado US$ 300 milhões, armas e até 50 Kg de urânio às FARC e vinculava o governo do Equador diretamente com a guerrilha. Era de se esperar que Álvaro Uribe, presidente da Colômbia, recebesse apoio do seu principal aliado George W. Bush contra as ‘manobras provocadoras’ do presidente venezuelano, que anunciou o envio de tropas para a fronteira com a Colômbia. Trata-se da importância estratégica da base militar venezuelana de Chaparro, na tríplice fronteira com o Brasil e a Colômbia. Nesse período dos conflitos realmente os venezuelanos estavam, nessa divisa, em desvantagem numérica em relação ao exército colombiano: os soldados de Uribe chegariam a 1.800, o Brasil tinha 1.750 militares e a Venezuela só 700 homens, conforme o enviado especial a Cucuí, Luis Kawaguti da Folha de São Paulo, em 09 de março de 2008.

As denúncias de Álvaro Uribe a Hugo Chávez chegaram ao cúmulo do genocídio, diante ao suposto envio de milhões de dólares às FARC, essa medida serviu como uma reação às críticas da operação militar no Equador. A acusação tinha como base os dados obtidos em um laptop encontrado no acampamento onde morreu Reyes, através de um e-mail enviado pelo dirigente das FARC, Iván Marquez, a Reyes que relatava a negociação com Chávez para a entrega do dinheiro. O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, questionou Bogotá por produzir uma ‘fábrica de mentiras’. No dia 07 de março de 2008 foi realizada a 20ª Conferência do Grupo do Rio em Santo Domingo, na República Dominicana, com aperto de mão entre Rafael Correa, do Equador, e Álvaro Uribe, da Colômbia, gesto que encerrou a mais grave crise diplomática dos últimos dez anos na América Latina. Mas, dois dias antes, em Washington houve um acordo de conciliação promovido pela Organização dos Estados Americanos [OEA] que definiu o ataque colombiano uma violação à soberania equatoriana, mas não explicitou uma condenação a Álvaro Uribe, que se justificou com a ‘inação’ de Quito à presença de guerrilheiros em seu território, sem garantir que suas tropas não entrariam novamente no Equador ou na Venezuela.

Enquanto isso, as FARC anunciavam Joaquim Gómez como sucessor de Raúl Reyes e um relatório mostrou que o Plano Colômbia, aprovado em 1999 por Bill Clinton, não alcançou o objetivo de reduzir pela metade a produção de coca andina. Apesar dos US$ 6 bilhões em assistência, a produção de coca aumentou 4% e o cultivo da planta aumentou 15% entre 2000 e 2006, portanto, recomenda-se que se reduza o financiamento. Essa crise regional nos Andes parece que realmente foi resultado de três situações internas convergentes, mais políticas do que militares, nas quais os governantes capitalizavam o carisma da população, apontados pelo uruguaio Juan Rial: [1] Álvaro Uribe queria um terceiro mandato; [2] Rafael Correa preparava a constituinte; [3] Hugo Chávez queria manter sua popularidade.

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