sábado, 11 de julho de 2009

Bombas/Fuzis, Chip-Celular Arsenal [CV_PCC]


Em 31 de dezembro de 1985, as famílias dos presos fizeram uma festa no Instituto Penal Cândido Mendes. José Carlos dos Reis Encina, o Escadinha, às quatro da tarde ainda passeava tranquilamente pelos arredores do presídio. Uma mulher estava com ele, segundo testemunhas. De repente, um helicóptero Bell-47, made in USA, pousou aos pés do traficante. Escadinha e a mulher embarcaram, sob os olhares dos guardas e soldados da PM. Decolaram calmamente para depois desaparecerem ao pôr do sol. Nunca se viu fuga mais fácil. Escadinha foi um dos fundadores do CV [Comando Vermelho], que resultou do encontro das organizações revolucionárias com o criminoso comum, de uma iniciativa do regime militar, regulamentada pelo art. 27 do Decreto-Lei 898 de 1969. Militantes do Partido Comunista Brasileiro [PCB] e da Aliança Nacional Libertadora [ALN] dividiram celas com pessoas condenadas por assalto, arrombamento, contrabando, jogo e prostituição.

O fenômeno da conscientização e o surgimento do ‘crime organizado’ apareceu na década de 1970, quando a ditadura militar abriu os portões da cadeia para a oposição. O ‘tráfico de informações’ era feito a partir das estratégias de guerrilha contadas por presos políticos ao pessoal da falange LSN [embrião do CV]: nas operações armadas dos guerrilheiros, em algum ponto da cidade sempre era deixado um ‘plantão médico’; usavam carros roubados horas antes das ações; acidentes de trânsito eram provocados por eles para engarrafar as ruas; roubavam vários bancos vizinhos de uma só vez, o risco era o mesmo de roubar um; casas eram alugadas em vários pontos próximos às operações, porque já se buscava formar uma ‘rede’. O crime organizado se instalou no Rio de Janeiro, na década de 1980 e, uma década depois, chegaram os armamentos militares, especialmente fuzis e granadas.

O primeiro fuzil apreendido com traficantes foi em maio de 1992, atualmente a polícia já recolhe cerca de 80 por mês. As marcas de fuzis preferidas pela bandidagem são: o AR-15 [Colt, americano]; AK-47 [Automatik Kalashinikov, russo]; Sig Sauer [Sauer, alemão]; Ruger e HKG3 [alemães]; FAL [belgo-brasileiro]. Em matéria de bombas, os traficantes têm preferência pela granada argentina FMK2, as brasileiras G3 [que explodem em mais de 300 pedaços e a GL305 [atordoante e de gás]. Bombas, produzidas com embalagens metálicas de creme de barbear são feitas em grande quantidade pelas quadrilhas. Diz-se que chegaram até a negociar a compra de mísseis Stinger, dados aos mujahedin afegãos pelos norte-americanos, destinados a destruir aviões e helicópteros. Na década de 1990 as armas de guerra começaram a entrar numa escala assustadora, quando a importação de armamento pesado e munição possibilitou a sua repartição nos ‘territórios vermelhos’. Os traficantes possuiram lança-foguetes antitanques operados a laser. No dia 20 de julho de 1993, no subúrbio do Irajá, soldados da PM escaparam dos disparos de um lança-granadas americano M.203 de 40 mm. Os traficantes atiraram com fuzis americanos e israelenses, enquanto os agentes da polícia se defendem com o parco armamento oficial.

Na madrugada de 9 de dezembro de 1992, o detetive Paulo Henrique Macedo levou um tiro de fuzil AR-15 na boca, numa invasão ao Morro do Borel: o impacto de um tiro de AR-15 corresponde ao choque de um objeto de 600 kg a 400 m/s, afirmou Carlos Amorim em seu livro “CV_PCC: a irmandade do crime”. Deste arsenal, os celulares facilitaram a vida na cadeia, escondidos ou com a conivência de funcionários corruptos, além dos chips que contribuíram para os presos acessarem a internet, enviar mensagens, mandar fotos por e-mail e fazer teleconferências. Na megarrebelião de fevereiro de 2001, o grande aliado do Primeiro Comando da Capital [PCC] para o sucesso da ação foi exatamnte o telefone celular. Depois dessa megarrebelião, o PCC passou a usar ações mais violentas. Até então, fugas, resgates e rebeliões eram os meios utilizados. Agora acrescentaram ataques a bombas e a funcionários de presídios: ‘ataques em série’. Ainda em setembro de 2001, bandidos do PCC usaram coletes da Polícia Federal, invadiram o Aeroporto de Bauru e roubaram, de um avião-pagador, dez malotes com 3 milhões de reais. Perseguidos pela Polícia Militar da região, seis foram presos e quatro fugiram. Com os detidos, a polícia encontrou armamentos suficientes para derrubar um avião. Em março de 2002, o PCC jogou bombas e metralhou viaturas e bases da polícia, delegacias, fóruns. ‘Ataques em série’ semelhantes ocorreram durante dez dias, em setembro de 2003, o que levou pânico e terror a vários pontos de São Paulo, detonando bombas, granadas e disparando contra distritos, viaturas e bases policiais. As ações aconteceram na capital, grande São Paulo, e no interior. Na noite de 12 de maio de 2006 até o dia 15, mais ataques e mortes, agências bancárias foram atacadas e dezenas de ônibus foram queimadas em todas as regiões de São Paulo. Assim, Godofredo Bittencourt, delegado chefe do DEIC, disse: ‘um celular dentro da cadeia é mais perigoso que 10 fuzis na rua’.

Assiste-se ao surgimento de uma nova organização criminosa comum, o PCC, incrustada nas cadeias paulistas, repetindo a experiência do CV. De um lado, o tiroteio da rua Altinópolis revelou pela primeira vez ao grande público a existência do CV, em 1981, de outro, José Márcio Felício, o Geléia, comandante do PCC paulista, liderou a maior rebelião simultânea de 25 penitenciárias no estado de São Paulo. A principal arma foi o telefone celular: a organização paulista e o CV carioca estavam juntos. O PCC nasceu em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, criado por alguns detentos, mas integrantes das FARC foram a Campinas para passar noções de guerrilha e táticas de sequestro a seus membros. Em maio de 2006, um juiz federal de Mato Grosso do Sul, afirmou que o PCC mantinha laços estreitos com as FARC, em posse de um vídeo feito pelas FARC com imagens de treinamento, distribuído entre bandidos paraguaios e do PCC. O que se transcreve na trajetória espantosa de Fernandinho Beira-Mar, por exemplo, bandido da Baixada Fluminense que ganhou o título de ‘maior traficante da América do Sul’ e que foi preso em 2001 pelo exército colombiano. George W. Bush chegou a assinar um decreto em 2002, considerando Beira-Mar uma ameaça à segurança pública dos EUA. Luiz Fernando da Costa, Fernandinho Beira-Mar, um dos expoentes do CV esteve associado as FARC, transformou-se num fenômeno do tráfico de drogas, no qual o governo americano pretendeu até julgar na Suprema Corte, em Washington, e condená-lo a 30 anos de prisão e a multas no valor de dez milhões de dólares.

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