domingo, 12 de julho de 2009

Sionismo em Território Palestino [1948]


O período pós-1945 foi de muitas dificuldades para o mundo árabe e para o mundo islâmico como um todo: a maior delas foi a criação do Estado de Israel. A história e as eventualidades dessa situação não será discutida em detalhes, mas sublinham-se alguns fatos. De todos os povos europeus, o judeu foi o único sem Estado próprio e por isso prestava-se a alianças entre Estados, independente do que esses governos representavam. Os judeus não tinham tradição ou experiência política e não perceberam a tensão nem os riscos que decorriam desse papel. Os judeus eram unidos por laços supostamente mais estreitos de sangue e família que os outros povos, então a imagem anti-semita do povo judeu como uma família intimamente interligada por laços de sangue tinha de fato algo em comum com a ideia que os judeus faziam de si mesmo. Assim, os judeus tomados como um grupo social e não político, realmente constituía um corpo separado dentro das nações.

O único resultado visível que se teve foi o ‘movimento sionista’ – a única resposta política que os judeus encontraram para o ‘anti-semitismo’ e a única ideologia que levou a sério o comportamento hostil que os impeliram para o centro dos acontecimentos que se sucederam ao longo das guerras mundiais, afirmou Hannah Arendt em seu livro “Origens do Totalitarismo”. O ‘movimento sionista’ surgiu mais ou menos ao mesmo tempo em que os movimentos nacionalistas árabes irromperam, na viragem dos séculos XIX-XX. Ambos partilhavam de um mesmo discurso: a necessidade da criação de um Estado independente; o sentimento de opressão pelos poderosos; um sentimento voltado para a transformação psicológica e simbólica de um povo; a relação ambígua e reticente com a religião.

Ressalta-se que os árabes não desempenharam um papel relevante no imaginário sionista antes de 1948, afinal o inimigo até então era o ‘mundo cristão’ e, particularmente, após 1918, a Grã-Bretanha. Mas este imaginário mudou radicalmente com a criação do Estado de Israel. Expulsando 700 mil palestinos, talvez um número maior que a própria população judia em 1948, os colonos judeus construíram um Estado maior do que o que fora previsto sob a partilha britânica. Para essa construção, os judeus ainda lutam uma grande guerra por décadas e buscam se transformar na mais preparada potência militar da região. Os judeus adquiriram armas nucleares, mas não estabeleceram uma base estável de relações com os Estados vizinhos, em particular, com os palestinos, que vivem dentro de suas ampliadas fronteiras ou na diáspora, conforme Eric Hobsbawm escreveu em seu livro “Era dos Extremos”. A resistência militar dos Estados árabes à criação de Israel significava que, para os sionistas, o principal opositor eram eles, o mundo árabe. A vitória israelense na guerra de 1967 reforçou ainda mais essa atitude, ao colocar uma grande população árabe sob o domínio israelense, o que demarcou o surgimento de um movimento palestino nacionalista moderno – a Organização para a Libertação da Palestina [OLP]. A OLP foi criada em 1964 por Yasser Arafat e alguns nacionalistas que pretendiam divulgar a ‘causa palestina’ e conseguir o apoio do mundo árabe.

Quando os judeus começaram a expulsar a população local e tomar parte de territórios dos vizinhos árabes, que tentavam destruir o Estado de Israel, os palestinos sequer se sentiam palestinos, ou seja, ainda não se sentiam aptos por terem o direito a uma denominação ou nacionalidade. Foi Y. Arafat quem lutou para lhes dar um nome e tornar visível a resistência que nascia no coração desse povo oprimido. Entretanto, a existência de Israel acrescentou ao Ocidente um inimigo local e menos preparado para fazer concessões em termos coletivos ao mesmo tempo em que impunha um problema ao próprio nacionalismo árabe. Em 1987, com a primeira Intifada palestina, começou a revolta – ‘às pedradas’ – nos territórios ocupados por judeus, contudo Israel reagiu com prisões e deportações. Yasser Arafat, no período que estava no exílio, viu a chance de tornar a Intifada um instrumento de pressão permanente. Destaca-se, sobretudo, outro problema que o mundo árabe possui tão grande quanto Israel: ser depositário de grande parte das reservas mundiais de petróleo, de acordo com Immanuel Wallerstein em seu livro “O Declínio do Poder Americano”. Com essa realidade geopolítica central, em especial, após 1945, os EUA não se tornaram indiferentes à região, razão suficiente para apoiar Israel a encorajar e estabilizar regimes mais conservadores nos países árabes. Enquanto isso o Hamas não deixou de lançar um sem-número de mísseis por dia até hoje, nem Israel parou de se exceder em seus bombardeios aéreos e terrestres: num território ainda sempre fraturado.

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