sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tirofijo e os Desplazados [FARC/AUC]


A ‘guerra contra as drogas’ [war on drug] patrocinada pelos norte-americanos tem sido custosa para os países andinos. Em qualquer cidade da planície tropical colombiana, dominada pelas drogas, fica nítido que a cocaína traz miséria, violência, insegurança, mas traz muito dinheiro: a fração dos lucros que volta aos países produtores representa de 2 a US$5 bilhões por ano na Colômbia, na década de 1990. Os grupos latino-americanos do crime organizado gerado pelo narcotráfico têm alcance mundial e são poderosos, ricos e bem armados. San Vicente de Caguán parece uma cidade pecuarista igual a qualquer outra pequena cidade da bacia amazônica, o que a tornava incomum em 2001 era a presença de um pequeno escritório das FARC [Forças Armadas revolucionária da Colômbia] na praça central, o maior e o mais antigo grupo guerrilheiro da América Latina. Embora fosse a ala militar do Partido Comunista Colombiano, as FARC logo dominaram o partido. Durante três anos, foi o governo Andrés Pastrana [1999-2002] permitiu que as FARC controlassem uma faixa de montanhas, selvas e pastagens em torno de San Vicente. As FARC não deixam de representar os interesses de dois grupos de camponeses colombianos: os pequenos agricultores que colonizaram as ‘fronteiras internas’, cujas terras foram ameaçadas pelos ‘barões do gado’, e os agricultores e diaristas da indústria da coca. O líder vitalício das FARC sempre foi Manuel Marulanda [Tirofijo].

Na década de 1990, as ações das FARC eram relacionadas às pilhagens e ao militarismo autônomo do que com queixas sociais, além de realizarem extorsões e sequestro. O dinheiro do narcotráfico ajudou as FARC se expandirem de aproximadamente 5 mil combatentes em 1980 para cerca de 20 mil em 2002. Em meados da década de 1990, as FARC operavam em unidades maiores e infligiram várias derrotas às Forças Armadas colombianas. O crescimento das FARC foi alimentado pelo narcotráfico e expôs a fraqueza da forças de segurança do Estado, assim essa relativa impotência do exército acarretou a expansão dos seus adversários – os paramilitares da AUC [Autodefesa da Colômbia]. Em 1998, Andrés Pastrana tomou duas decisões: iniciar as negociações de paz com as FARC e buscar uma aliança estratégica com os EUA.

O ‘Plano Colômbia’ foi elaborado por autoridades colombianas e norte-americanas, de tal modo que os EUA deram de 500 a US$700 milhões à Colômbia por ano, entre 1999 a 2006, em ajuda militar, dados enunciados por Michael Reid em seu livro “O Continente Esquecido”. Em 2002, Álvaro Uribe Vélez elegeu-se presidente da Colômbia e sua ‘política de segurança democrática’ envolvia a ampliação das forças armadas, contratando mais de 60 mil soldados e 30 mil policiais suplementares; criou uma força de cerca de 20 mil ‘soldados camponeses’ ou ‘soldados populares’; seis novos batalhões de montanha para o exército ocupar os altos maciços andinos, onde servia de corredor de passagem e refúgio estratégico para as FARC; transformou o exército em uma força ofensiva, isto é, criou nove brigadas móveis. O equilíbrio estratégico mudou e as FARC foram expulsas de boa parte da Colômbia central e forçadas a voltar para as selvas, operando com grupos menores.

O enfraquecimento das FARC resultou na deserção de milhares de guerrilheiros. Os combates entre exército, paramilitares e guerrilha aumentaram, portanto, o número de cidadãos desplazados [deslocados] para o território equatoriano, principalmente, em busca de segurança, emprego ou refúgio temporário. Acredita-se também na existência de acampamentos militares das FARC na fronteira sudeste da Venezuela do mesmo modo que grupos paramilitares na sua fronteira sudoeste – a Venezuela é o país com o maior número de colombianos do mundo, conforme escreveu Rafael Duarte Villa em seu artigo ‘Os Países Andinos: tensões entre realidades domésticas e exigências externas’. Certamente, para os governos do Equador, do Peru e da Venezuela, a prioridade é neutralizar grupos insurgentes em suas fronteiras e não o combate ao narcotráfico, afinal era Uribe quem já não distinguia mais o combate ao narcotráfico e aos grupos guerrilheiros.

Um dos problemas mais expressivos para os países andinos tem sido a farta ajuda militar dos EUA à Colômbia, o que poderia originar um desequilíbrio militar regional, além da intensa militarização do Plano Colômbia que fez com que os grupos guerrilheiros das FARC, da AUC e os narcotraficantes recuassem cada vez mais em direção ao território do Equador, utilizando-o como retaguarda.

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