quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Terror-Teocrático [Fundamentalismos]


O fundamen-talismo islâmico é uma típica teocracia que avançou tanto pela mobilização em massa de pessoas contra governos impopulares quanto pela própria vontade de Alá. Quem invocaria apenas a natureza misericordiosa de Deus ao ser mobilizado por Khomeini ou Saddam Hussein? Quando bastava apenas servir, lutar, fulminar. Do mesmo modo que Reagan e Thatcher exigiam, durante a Guerra Fria, o serviço obediente de seus cidadãos, com um poder que só alguns sacerdotes eram capazes de possuir. É evidente que a religião fundamentalista dinamizou e mobilizou massas nas últimas décadas do século XX. O Islã não mobilizou as massas, por exemplo, com uma mensagem reformadora e modernizadora, mesmo que os discípulos de Jamal al-Din al Afghani no Irã, Egito e Turquia; de seu seguidor Mohammed Abdun no Egito; do argelino Abdul Hamid bem Badis não estivessem nas aldeias, mas nas escolas e universidades, onde uma mensagem de resistência às potências européias encontrou audiência. Apesar disso, os revolucionários islâmicos que chegavam ao poder geralmente eram modernizadores seculares. Percebe-se que foi mais fácil, entretanto obter a mobilização das massas através da religiosidade antimoderna, ou seja, através do ‘fundamentalismo islâmico’.

Muitos ‘movimentos fundamentalistas’ ganharam terreno em vários países do Terceiro Mundo, mas não de modo exclusivo, na região islâmica eram especificamente, por exemplo, revoltas contra o mundo moderno, onde os sujeitos estavam cônscios de que faziam parte de um mundo muito diferente do de seus pais. Esse mundo chegava a eles através dos ônibus ou caminhões que circulavam empoeirados pelas estradas marginas, da bomba de gasolina, do radinho transistorizado, mas principalmente de um mundo onde as pessoas migravam aos milhões da zona rural para as cidades. A ascensão do ‘fundamentalismo islâmico’ foi visivelmente um movimento contra o Ocidente, afirmou Eric Hobsbawm em seu livro “Era dos Extremos”. O apelo da religião politizada se mostrava mais amplo na medida em que as religiões mais tradicionais eram inimigas da civilização ocidental, porque eram, para elas, exploradores da pobreza do mundo. Não por acaso os ativistas desses movimentos perseguiam turistas ocidentais, como no Egito, ou assassinavam moradores ocidentais, como na Argélia. Mas a xenofobia popular nos países ricos se dirigia contra estrangeiros vindos do Terceiro Mundo, tornando-se mais visível quando a União Européia represou suas fronteiras contra a inundação de pobres terceiro-mundistas em busca de trabalho. No entanto, em termos políticos e militares, cada lado se posicionava muito além um do poder do outro. Era improvável que houvesse um dissuasor efetivo, mesmo que alguns países do Terceiro Mundo estivessem em posse de mísseis nucleares. Contudo, tornava-se cada vez mais claro, na última metade do século XX, que o Primeiro Mundo poderia até vencer batalhas, mas nunca guerras contra o Terceiro Mundo, ou antes, que a vitória em guerras, mesmo se possível, não asseguraria jamais o controle de tais territórios.

Desapareceu, enfim, a disposição das populações coloniais de deixarem-se, uma vez vencidos, administrar por ocupantes europeus ou americanos. No século XX ressurgiram fundamentalismos cristãos e islâmicos, mas também judaicos, hindus, budistas, que partilharam características comuns: insistiam numa versão puritana da prática religiosa e enalteciam a integridade da tradição religiosa. Partilhavam outra característica: uma oposição às estruturas de poder dominante do sistema capitalista mundial moderno. Combinação, portanto de um retorno ao ‘fundamental’ e à retórica ‘anti-sistêmica’, ressaltou Immanuel Wallerstein em seu livro “O Declínio do Poder Americano”. Em uma rasa genealogia, o termo ‘fundamentalismo’ deriva da história do protestantismo nos EUA, no início do século XX, grupos da igreja Batista, principalmente, exigiam um regresso ao ‘fundamental’, ou seja, eles acreditavam que tanto a teologia quanto as práticas cristãs tinham sido invadidas por várias idéias modernistas, seculares, que as desviavam do caminho. Pretendiam, pois um regresso às crenças e práticas de gerações anteriores. Por analogia, o ‘fundamentalismo islâmico’ tornou-se o atributo de grupos islâmicos que buscavam o culto de práticas mais antigas e puras, afinal consideravam as visões modernas de mundo um desvio no caminho dos seus fiéis.

Se essa expressão em uso deriva da história cristã, então nunca foi peculiar ao Islã. Moisés poderia ter sido muito bem talvez o primeiro a usar uma bioarma, quando o Senhor lhe dizia para jogar cinzas em direção ao céu na presença do faraó. Quando ele o fez, as cinzas se tornaram furúnculos na pele e cresciam como bolhas nos homens e animais como comentou Susan Willis, sobre o possível vínculo do antraz com a postura judaico-cristã, em seu livro “Evidências do Real”. Assim, somente após o 11 de setembro, com o antraz espalhando terror pelos EUA, que a polícia prendeu Clayton Lee Waagner, que se autoproclamava do ‘Exército de Deus’, suposto grupo fundamentalista americano, ao se confessar culpado por mais de 550 ameaças de antraz contra clínicas de laboratório. Ele enviava suas ameaças via FedEx, usando o número da conta das próprias clínicas para o pagamento dos serviços postais. Rumores se espalhavam por aquelas correspondências, na atmosfera que gerou os trotes de antraz. Em uma atmosfera de fundamentalismo na qual todas as formas de terror são igualmente absolutas, enquanto os norte-americanos agitavam suas bandeiras entusiasticamente.

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