domingo, 7 de dezembro de 2008

Brasil em Fuga


A impressão que se tem é que nós estamos na década de noventa e vivendo na Europa, Japão ou Estados Unidos. Que depressão! O discurso do capitalista é sempre o mesmo: empréstimos. O capitalismo financeiro idealizado pelas elites do planeta chega a dar graça! Na época em que os empréstimos a juros mais baixos eram restritos aos industriais que destruíam a Terra e quando os funcionários das fábricas recebiam muito pouco, 70 reais por mês, a direita capitalística (para usar um termo de Guattari) do país não se preocupava com o aquecimento global nem com a pobreza mundial. O termo desenvolvimento sustentado surgiu daí. A exploração da mão-de-obra e do meio-ambiente caminhava como uma contradição ao capitalismo financeiro.

De outro modo, estamos no século XXI, momento que o setor informacional predisse e que não viu pela ótica do capitalismo financeiro. Deprimente, mas o fato é que ruiu o capitalismo financeiro, a tecnologia da informação não está mais a serviço de uma globalização injusta e os setores mais reacionários da direita brasileira transformaram-se em oposição, degustando pizzas e comemorando prisões.

A economia brasileira atual é esquizofrênica, mais uma vez é a Deleuze e Guattari que recito: por ser capitalista e, ao mesmo tempo, estatizante. Capitalista e estatizante, esquema bipolar que a torna esquizo. A economia política do atual governo conseguiu a proeza de se organizar tanto pelos mercados financeiros quanto pelo capital produtivo, parte dele estatal. Os salários aumentaram e os créditos às massas apareceram, diferentemente dos créditos restritos às grandes empresas nos períodos de governos precedentes. Os impostos são suficientes para regular os preços e os juros são altos o bastante para controlar a inflação.

O problema que se apresenta agora além de equívoco é dissonante. Estatizar as empresas privadas que não estão suportando a crise do capitalismo financeiro. No Brasil, até bem pouco tempo atrás, as grandes empresas privadas viviam com os investimentos estrangeiros em ações, enquanto as bolsas estavam em alta e o dólar em queda, embora o Banco Central comprasse esses dólares baratos e permitia o investimento em ações para a iniciativa privada. O momento é de regulamentação sóbria sobre as vendas desses dólares, para não haver uma fuga incontida de moeda do país, em momento de alta dos dólares. Qual o melhor negócio a fazer? Com o exemplo das estatizações de bancos norte-americanos pelo FED, será que o governo brasileiro vai estatizar as empresas privadas que estão demitindo funcionários ou deixando-os em férias coletivas? Talvez seja o melhor investimento a fazer, do que financiar empréstimos para países centrais dilacerados pelo capital financeiro nestes últimos anos por uma recessão sem precedentes... O problema é se tornar um país credor com muitos inadimplentes. Os países periféricos estão deixando seus compromissos de lado, como tem tentado Corrêa, presidente do Equador.

A política econômica brasileira tem duas saídas: ou segue o caminho dos empréstimos e retroalimenta o capitalismo financeiro global, correndo os riscos de perder por inadimplência, ou vai em direção a mais estatizações de empresas, que daqui a pouco estão falindo, os sinais são essas demissões que se estimam dois milhões para 2009. Dos cofres para a especulação ou dos cofres para o capital produtivo. Como governamentalidade (governo de si e governo do outro, concepção de Foucault) que se exerce atualmente no Brasil, a saída serão as duas opções, certamente. Um pouco da receita vai para o mercado financeiro, outro tanto destinado para a estatização de empresas interessantes para o país. Lembrei-me da política neoliberal que assolou tanto os cidadãos desse país na década de oitenta e principalmente na década de noventa.

Parece que as colunas de FHC no jornal O Globo foram escritas há 10 anos, numa viagem a Nova York, ouvindo Bob Rubin em uma conferência sobre ‘subprime mortgage’, ex-secretário do Tesouro de Clinton, enquanto em todo o Terceiro Mundo (sic) a situação era de desespero social e falta de perspectiva para uma população empobrecida pelo jogo das forças do mercado com a pressão do ajuste estrutural das instituições financeiras internacionais e pela privatização de empresas estatais brasileiras. Nesse período o globo estava mais que aquecido...

sábado, 29 de novembro de 2008

Index: o Terror-capital


Sabe-se que há, de acordo com Bell, dois modos de produção: capitalismo e estatismo. Primeiro, o capitalismo se reestruturou completamente nas décadas de 1980 e 1990. Dinheiro não é capital, em primeira instância, o capital é derivado de alguma expropriação do assalariado ou da espoliação via crédito. Com a reestruturação do modo de produção capitalista através do setor informacional, Fukuyama ironizava o fim da história com a queda do muro de Berlim e com Gorbatchev na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Perestroika e Glasnost deram o tom da derrocada do stalinismo retrógrado. Toda tentativa de territórios tornarem-se nações ou era democracia, com interesses norte-americanos, ou era terrorismo.

O que aconteceu no pré-millenium tension? A reestruturação informacional. De Ronald Reagan e Margaret Thatcher até George W. Bush e Tony Blair não só vimos o setor informacional dar suporte a espoliação do capital, por meio de empréstimos suntuosos a países condenados a dependência, como assistimos um rumo novo para essa história. Chama-se de reestruturação produtiva informacional ao desenvolvimento da rede de computadores via internet. Como demonstrou Virilio, a primeira elaboração deste sistema ocorreu nos Estados Unidos, no MIT da década de 1960. A rede emaranhou-se pelo mundo afora e deram suporte para três grandes guetos dourados NY, SP e Tóquio. Deu-se a isso o nome de globalização. Satélites foram jogados para o espaço.

Esta foi a mesma época em que a queda das bolsas de valores em SP ocorria sem tréguas. O setor científico-informacional pauta-se na informação e transmissão de dados, cujo capitalismo central deixava de ser produtivo e as indústrias passariam para a periferia. O exemplo disso foi quando, em escala nacional, as empresas passaram para o nordeste do país e São Paulo tornou-se, no final da década de 1990, de acordo com Harvey, um gueto dourado. Houve um eixo produtivo no capitalismo privilegiado, qual foi ele? O setor agroexportador e o informacional. O símbolo do Salvador da Pátria era um personagem de novela que era um bóia-fria de plantações de laranjeiras. Houve o inesquecível bug do milênio e ninguém entendeu o que era aquilo. Fuga de capitais, mais do que isso, Harvey designou isso por capital fictício. O neoliberalismo invocado por Reagan e Thatcher já não era mais aquele terror da cortina de ferro, que estava ruindo nas mãos de Clinton.

Aponto algumas questões que devem ser explicadas. De que modo se estrutura a tecnologia informacional? Como beneficiava ao capitalismo global, a globalização? O que significa o capitalismo através do setor informacional em termos governamentais? A tecnologia informacional se estrutura em um duplo eixo: visão e velocidade, logo, computação. Beneficiava ao capitalismo global levando dados de todos os pregões do planeta desenhando o antigo mapa da globalização, cujo nosso quinhão era São Paulo como um ponto do globo e o resto? Tudo o que não fosse a nossa capital a financeira era o resto... Em termos governamentais significava o ápice do capitalismo neoliberal, pelo menos esta foi a última e mais esquizofrênica de todas as metamorfoses do capitalismo.

Para uma economia que não se consolidava em bases sólidas e produtivas, com fuga de capitais e a reinvenção de capital fictício como prática, ficava fácil temer os números das bolsas de valores e o jogo da alta do dólar. O investimento em propaganda e marketing sublimava os mass media, hollywood e rock na roll era um clímax! O estatismo? Essa é outra história.

Outra Moeda do Urstaat


A primeira década de 2000 teve seu início com a derrota republicana estadunidense em 2008, mas por causa da intensa queda do capitalismo financeiro, o que traiu, nas últimas décadas, a promessa de lucros exponenciais pelo capitalismo informacional. É certo que um torniquete dessa vez foi intenso. A globalização da economia não ocorreu sem resistências. Este torniquete é designado ‘axiomática’ por Deleuze e Guattari, em seus dois tomos de capitalismo e esquizofrenia. O estatismo sufocou o capitalismo.

Pensar territorialmente no BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) é pensar, automaticamente, em três quartos do planeta, incluindo a África do Sul e suas respectivas áreas de influência. Na América Latina as aspirações do Wellfare State ocorrem sob a alcunha, nos mass media, de ‘fascismo socialista’. Tamanha vitória que governos carismáticos vêm assolando os países como a Venezuela, Brasil, Bolívia e Nicarágua. Giorgio Agamben denomina por auctoritas (autoridade política) e potestas (direito político), essa figura dupla que consegue arrebatar as populações e ganhar eleições, algo como um weberianismo repaginado? Lula, Chávez e Fidel na América Latina tornaram-se inimigos de George W. Bush, que tentou promover o terror no continente através do corredor colombiano, com seu companheiro político Uribe, com o Plano Colômbia, após o atentado de 11 de setembro. Zizek chamou isto de terrorismo verde! A área de ação do BRIC é tão extensa que apenas sobrou o deserto islâmico para a expansão, através de guerra, do capitalismo norte-americano. O G-20 vai agora endividar os países centrais? O desenvolvimento financeiro e os altos juros e a outra metade da economia brasileira. Assim, será que o Itaú-Unibanco, maior banco latino-americano, e o BB-Nossa Caixa vão entrar nessa?

Dados os inúmeros acordos bilaterais realizados pelo Mercosul e países como França, Alemanha, Rússia, Índia, África do Sul e China, destacam-se alguns aspectos da política econômica brasileira. Que a economia brasileira, estatista de Lula, realizou um laboratório inédito de Estado forte, não resta dúvidas. Enquanto os EUA soltavam bombas (capital improdutivo) no Afeganistão e no Iraque, os economistas do governo criavam um duplo processo: uma economia financeira sólida e um capital produtivo como lastro - commodities. O erro quem cometeu foi Keynes de 1945-70. O mínimo de privatizações, uma base suficiente de capital para previdência, mas não segurava a inflação promovida pelo preço do petróleo. Desta vez foi diferente, Mantega utiliza as taxas de juros mais altas que enforca a inflação e minimiza a crise do sistema. Enquanto dois setores da indústria militar tornam-se estatais multinacionais – mais um ineditismo na economia industrial brasileira. A Embraer nas mãos dos altos setores da aeronáutica em São José dos Campos e a Petrobras que, não só atingiu os marcos da autonomia nacional em produção de petróleo, mas alcançou a experiência tecnológica em águas profundas e ultraprofundas.

Deleuze e Guattari conceituaram as metamorfoses de uma máquina de guerra, ora os as movimentos minoritárias e máfias banditistas, ora o complexo urbano-industrial. As privatizações foram levadas ao extremo por FHC, mas este governo deixou um legado inexpressivo que foi o complexo informacional. De que modo o país teria multinacionais? Como, por exemplo, a Petrobrás estaria em quase todos os poços de petróleo do planeta e de que forma a Embraer possuiria sedes na França e na China se não fosse o setor informacional consolidado? Do eixo velocidade-visão (informacional) para o eixo transporte e energia. Essas empresas não foram privatizadas porque duas uma: ou a Petrobras se desenvolveria com a Marinha Brasileira e a Embraer se desenvolveria com a FAB, ou vender essas empresas seria o mesmo que entregar grande parte da Defesa Nacional.

Trilhar com as tropas norte-americanas o retorno para casa, dos escombros deixados no deserto iraquiano para o que restou nos USA, parece assistir a um filme já visto. Aqui a história parece caminhar das bandeiras para as minas: acompanhar os conflitos da política social democrata brasileira é quase retroceder aos debates da República Velha. Com música regionalista e documentário para todos! No cinema o público e os patrocinadores parecem trocar os papéis?