
África do Sul, um mundo colonial que foi simulta-neamente comparti-mentado e manique-ísta, onde o nativo tornou-se um ser confinado – o apartheid foientão apenas uma das modalidades de compartimentação do mundo colonial que existiu, onde a primeira coisa que se aprende a fazer é a ficar no seu lugar e a não passar dos limites, definiu Frantz Fanon em seu livro “Os Condenados da Terra”. Esse mundo hostil rejeita com todas as suas asperezas a massa colonizada e isto não representa apenas um inferno que se deseja afastar, mas revela um paraíso ao alcance das mãos, protegido por terríveis cães de guarda. As palavras não falarão e o silêncio se congela em imagens do apartheid: carteiras de identidades requeridas, provas forjadas pela polícia, fotografias para fichas de presídios, retratos reticulados de terroristas na imprensa. . As fronteiras que protegiam a ‘pureza’ do espaço britânico estavam sitiadas, a lei colonial operava em torno dessas fronteiras. A lógica de apartheid é a asserção de uma diferença viabilizada em uma sociedade rigidamente segregada, conforme Stuart Hall em seu livro “Diáspora”. Certas práticas tradicionais de racismo diminuíram e pode-se ter tentado ver o fim das leis de apartheid ou das leis de Jim Crow na África do Sul como um término simbólico de uma era inteira de segregação racial. Essas divisões maniqueístas e as rígidas práticas de exclusão na África do Sul devem ser tomadas como paradigma dos ‘racismos modernos’. Não sem reação ou resistência pelos sul-africanos.
Os movimentos de guerrilhas multiplicaram-se na década de 1960, após o endurecimento da política de apartheid sul-africano, com a criação dos ‘lares nacionais’ e, principalmente, com o massacre de Sharpeville, mas sem muito sucesso, devido às rivalidades inter-tribais e sino-soviéticas. Em primeiro lugar, os assassinatos de Sharpeville abalaram a opinião pública durante meses e se tornaram um símbolo nos jornais, nas televisões, nas conversas, foi através desses assassinatos, principalmente, que homens e mulheres abordaram o problema do apartheid na África do Sul. Em segundo lugar, esses movimentos de guerrilha não deixaram de pertencer à velha família revolucionária de 1917, mas também não deixavam de ser diferentes, isto era inevitável, visto que as sociedades analisadas por Marx e Lenin e as da África Subsaariana havia diferenças notáveis, conforme Eric Hobsbawm em seu livro “Era dos Extremos”. Óbvio que o país africano a que melhor essas análises marxistas se aplicavam era ao capitalismo industrializado dos colonos da África do Sul, onde surgiu um verdadeiro movimento de libertação de massa, buscando cruzar fronteiras tribais e raciais – o Congresso Nacional Africano –, com o apoio de um movimento sindical e de um eficiente Partido Comunista.
Os burocratas de Moscou financiaram e armaram durante décadas os guerrilheiros do CNA, aliados dos comunistas, mesmo quando a chance derrubar o sistema de apartheid na África do Sul era mínima. Na África do Sul esse movimento foi desproporcional, muito forte entre umas tribos e relativamente muito mais fraco entre outras [as zulus, por exemplo], com efeito, essa situação foi bem explorada em proveito do próprio regime apartheid. Portanto, as mobilizações ‘nacionais’ baseavam-se em lealdades ou alianças tribais, com exceção do pequeno quadro de intelectuais urbanos educados e ocidentalizados. Por um lado, os imperialistas britânicos mobilizaram tribos contra os novos regimes, por outro, o marxismo-leninismo contribuíra para formar, no país, partidos mais disciplinados, centralizados. Michael Hardt e Antonio Negri examinaram de perto as lutas contra o apartheid na África do Sul, em seu livro “Multidão”, assim exemplificaram a presença simultânea, por um longo período, de duas formas organizacionais, uma em direção as formas centralizadas e outra ligada as novas formas mais disseminadas.
A composição interna das forças que desafiaram e acabaram derrubando o regime de apartheid era extremamente complexa e mudava com o tempo, desse modo, identifica-se, pelo menos a partir de meados da década de 1970, com a revolta de Soweto, e ao longo da década de 1980, uma vasta proliferação de lutas horizontais mais disseminadas, neste sentido o livro “Year of Fire, Year of Ash” de Baruch Hirson é exemplar. O ódio dos negros contra a dominação dos brancos era comum aos vários movimentos sul-africanos, mas eles se organizavam de forma relativamente autônoma em diferentes setores da sociedade: os grupos estudantis foram protagonistas importantes e os sindicatos desempenharam papel central, com sua longa história de militância na África do Sul. Por isso, ao longo desse período, essas lutas mais horizontais mantiveram uma dinâmica relação com os eixos mais hierarquizados ou verticalizados de organizações tradicionais e mais antigas de liderança, como o Congresso Nacional Africano [CNA], mantido em clandestinidade e no exílio até 1990. Dessa maneira as lutas contra o apartheid podem ser comparadas com a Intifada palestina, porque assumem duas formas organizacionais diferentes, balanceada entre uma ‘organização autônoma horizontal’ e uma ‘liderança centralizada’, isto é, perceptível na tensão entre as lutas organizadas [por trabalhadores, estudantes e outros] e o CNA, mas esclarece-se que se trata de reconhecer uma tensão no interior do próprio CNA, que se manteve e se ampliou desde a sua chegada ao poder através das eleições, em 1994. Dale McKinley evidenciou essas tensões no CNA com enfoque na ideologia marxista-leninista em suas críticas de natureza burguesa e reformista, no livro “The ANC and the Liberation Struggle”. Por fim, a África do Sul tornou-se independente da Grã-Bretanha em 1948, mas um regime de brancos ingleses consolidou e ampliou as leis de segregação racial existentes, criando o sistema de apartheid: privando a os negros de seus direitos políticos e os separava, confinando-os em reservas etnotribais [bantustões].
A Revolta política contra o apartheid se iniciou na década de 1960. Esse regime anglófano foi sendo isolado internacionalmente e fustiga internamente, acabando num colapso na década de 1990. Após a Guerra Fria, até mesmo regime de apartheid foi obrigado a recuar. As primeiras eleições no país, em 1994, encerraram o apartheid e inauguraram a democracia. Nelson Mandela, mártir sul-africano, venceu essas eleições e revitalizou as esperanças do continente africano inteiro.
Os movimentos de guerrilhas multiplicaram-se na década de 1960, após o endurecimento da política de apartheid sul-africano, com a criação dos ‘lares nacionais’ e, principalmente, com o massacre de Sharpeville, mas sem muito sucesso, devido às rivalidades inter-tribais e sino-soviéticas. Em primeiro lugar, os assassinatos de Sharpeville abalaram a opinião pública durante meses e se tornaram um símbolo nos jornais, nas televisões, nas conversas, foi através desses assassinatos, principalmente, que homens e mulheres abordaram o problema do apartheid na África do Sul. Em segundo lugar, esses movimentos de guerrilha não deixaram de pertencer à velha família revolucionária de 1917, mas também não deixavam de ser diferentes, isto era inevitável, visto que as sociedades analisadas por Marx e Lenin e as da África Subsaariana havia diferenças notáveis, conforme Eric Hobsbawm em seu livro “Era dos Extremos”. Óbvio que o país africano a que melhor essas análises marxistas se aplicavam era ao capitalismo industrializado dos colonos da África do Sul, onde surgiu um verdadeiro movimento de libertação de massa, buscando cruzar fronteiras tribais e raciais – o Congresso Nacional Africano –, com o apoio de um movimento sindical e de um eficiente Partido Comunista.
Os burocratas de Moscou financiaram e armaram durante décadas os guerrilheiros do CNA, aliados dos comunistas, mesmo quando a chance derrubar o sistema de apartheid na África do Sul era mínima. Na África do Sul esse movimento foi desproporcional, muito forte entre umas tribos e relativamente muito mais fraco entre outras [as zulus, por exemplo], com efeito, essa situação foi bem explorada em proveito do próprio regime apartheid. Portanto, as mobilizações ‘nacionais’ baseavam-se em lealdades ou alianças tribais, com exceção do pequeno quadro de intelectuais urbanos educados e ocidentalizados. Por um lado, os imperialistas britânicos mobilizaram tribos contra os novos regimes, por outro, o marxismo-leninismo contribuíra para formar, no país, partidos mais disciplinados, centralizados. Michael Hardt e Antonio Negri examinaram de perto as lutas contra o apartheid na África do Sul, em seu livro “Multidão”, assim exemplificaram a presença simultânea, por um longo período, de duas formas organizacionais, uma em direção as formas centralizadas e outra ligada as novas formas mais disseminadas.
A composição interna das forças que desafiaram e acabaram derrubando o regime de apartheid era extremamente complexa e mudava com o tempo, desse modo, identifica-se, pelo menos a partir de meados da década de 1970, com a revolta de Soweto, e ao longo da década de 1980, uma vasta proliferação de lutas horizontais mais disseminadas, neste sentido o livro “Year of Fire, Year of Ash” de Baruch Hirson é exemplar. O ódio dos negros contra a dominação dos brancos era comum aos vários movimentos sul-africanos, mas eles se organizavam de forma relativamente autônoma em diferentes setores da sociedade: os grupos estudantis foram protagonistas importantes e os sindicatos desempenharam papel central, com sua longa história de militância na África do Sul. Por isso, ao longo desse período, essas lutas mais horizontais mantiveram uma dinâmica relação com os eixos mais hierarquizados ou verticalizados de organizações tradicionais e mais antigas de liderança, como o Congresso Nacional Africano [CNA], mantido em clandestinidade e no exílio até 1990. Dessa maneira as lutas contra o apartheid podem ser comparadas com a Intifada palestina, porque assumem duas formas organizacionais diferentes, balanceada entre uma ‘organização autônoma horizontal’ e uma ‘liderança centralizada’, isto é, perceptível na tensão entre as lutas organizadas [por trabalhadores, estudantes e outros] e o CNA, mas esclarece-se que se trata de reconhecer uma tensão no interior do próprio CNA, que se manteve e se ampliou desde a sua chegada ao poder através das eleições, em 1994. Dale McKinley evidenciou essas tensões no CNA com enfoque na ideologia marxista-leninista em suas críticas de natureza burguesa e reformista, no livro “The ANC and the Liberation Struggle”. Por fim, a África do Sul tornou-se independente da Grã-Bretanha em 1948, mas um regime de brancos ingleses consolidou e ampliou as leis de segregação racial existentes, criando o sistema de apartheid: privando a os negros de seus direitos políticos e os separava, confinando-os em reservas etnotribais [bantustões].
A Revolta política contra o apartheid se iniciou na década de 1960. Esse regime anglófano foi sendo isolado internacionalmente e fustiga internamente, acabando num colapso na década de 1990. Após a Guerra Fria, até mesmo regime de apartheid foi obrigado a recuar. As primeiras eleições no país, em 1994, encerraram o apartheid e inauguraram a democracia. Nelson Mandela, mártir sul-africano, venceu essas eleições e revitalizou as esperanças do continente africano inteiro.
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