segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Socius-Amazônico


Em uma concepção específica de espaço amazônico prevalece uma ideia regional onde o novo e o velho se polarizam e se estranham. Articula-se uma logística amazônica complexa e incluem-se redes de energia, comunicação, circulação, para estruturar os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento. Destaca-se uma Amazônia como espaço estratégico de ação e resgata-se um modelo exógeno para a região, ao se propor a implantação de grandes ‘corredores de desenvolvimento’, acompanhando a visão do nacional desenvolvimentismo através dos ‘pólos de crescimento’. A descoberta de grandes reservas minerais na Amazônia, como é o caso da Serra de Carajás e da Foz do rio Trombetas, bem como as distâncias a serem percorridas para transformar os minérios em mercadorias, fazem da extração mineral um negócio para grandes empresas como a CVRD e a Alcoa, com lavras integralmente mecanizadas. Assim a região norte chegou a ser a segunda área produtora de minérios do Brasil, na década de 1990, de acordo com Claudio A. G. Egler em seu artigo “Crise e Dinâmica das Estruturas Produtivas Regionais no Brasil”. A extensão do complexo metal-mecânico para a região norte do Brasil, principalmente nos segmentos de eletro-eletrônicos, de consumo e de montagem de veículos de duas rodas, fez com que o peso relativo deste complexo na estrutura industrial regional fosse superior ao da média nacional, mesmo em relação ao indicado pelo sudeste brasileiro.

Discute-se outra noção da Amazônia, que se baseia no seu reconhecimento como espaço estratégico, para a ação e o planejamento do Estado e em detrimento dos interesses capitalistas. O conceito de Amazônia Legal, assimilado e divulgado por instituições de planejamento e de desenvolvimento regional, não deixa de ser uma expressão recorrente em documentos como os Planos de Desenvolvimento da Amazônia, apresentados por Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior em seu artigo “Pensando a Concepção de Amazônia”. Percebem-se nessas noções, expressões e conceitos, de todo modo, características que se explicitam: [1] de uma natureza considerada como matéria-prima, explorada através do solo, do subsolo, dos recursos hídricos, etc.; [2] de um espaço que não é tido em sua dimensão social, mas base material a ser ocupada, portanto, um espaço a-histórico, sem homem. Investe-se, então, em uma leitura que considera a distribuição de organizações [sociais e políticas] que revela outra face da Amazônia, a de sua sociedade. Os padrões detectados estão associados à intensidade de conflitos resultantes da combinação de vários elementos – estruturas produtivas, sociais e políticas; acessibilidade; origens étnicas e geográficas; densidade populacional; características naturais e culturais.

Uma das maiores expressões das ONGs traduziu-se, por muito tempo, pelo Grupo de Trabalho Amazônico [GTA], constituído a partir de iniciativas provenientes de Brasília e São Paulo. Chegou a congregar, na década de 1990, 316 entidades, a maior parte delas compostas por sindicados, pela Coordenação das Nações Indígenas, por organizações de pequenos produtores rurais. Deste modo destaca-se, conforme Bertha K. Becker em seu artigo “Redefinindo a Amazônia: o Vetor Tecno-Ecológico”, a dispersão dessas organizações no vale amazônico em sua dinâmica regional:

[1] o Acre e a região do babaçu no Maranhão são os que apresentaram o maior número de organizações, seguidos da região de Santarém e Carajás, o que revelou nessas áreas, com efeito, uma intensidade exorbitante de conflitos; [2] Um padrão espacial específico se revelava sobre as regiões de Carajás, Bico do Papagaio e Santarém, seguidas de Altamira, caracterizaram-se pela força de trabalhadores e pequenos produtores agrícolas expressa no peso de seus sindicatos e associações em luta contra as grandes fazendas pecuárias; [3] Acre, Rondônia e Amapá expressavam um padrão similar, com peso relativo às organizações de apoio às reservas extrativistas e às populações indígenas. No Acre a força sindicalista foi marcadamente mais intensa que em Rondônia e Amapá, onde se destacavam as entidades ambientalistas; [4] Verificaram-se diversas articulações entre sindicatos e cooperativas agroextrativistas, sobretudo de posseiros em luta contra os grandes proprietários pecuaristas, na região do babaçu; [5] enfim, Marajó apresenta um padrão próprio e diversificado, em ligação com Belém, tudo indicava para um caráter mais urbano, com ênfase nas associações de moradores.

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