sábado, 22 de agosto de 2009

Hidrocarboneto Habitat [biotech andean III]



Afirma-se então que a crescente dependência norte-americana por petróleo importado possui ramificações geopolíticas. De uma herança geopolítica neoliberal da década de 1970, que se cristalizou na elevação dos preços pela OPEP, cujo embargo do petróleo em 1973 colocou vastas parcelas de poder e capital financeiro à disposição de países produtores de petróleo como a Arábia Saudita, Kuwait e Abu Dhali –, os Estados Unidos estavam, a contrapelo, preparando-se para invadir esses países no mesmo ano -, para restaurar o fluxo de petróleo e baixar os preços: tratava-se de uma pressão militar dos EUA para reciclar seus petrodólares em bancos de investimentos em Nova York. Resta que a liberalização do crédito e do mercado financeiro promoveu, com o apoio do governo ianque, essa estratégia em nível global, na década de 1970.

Os países em desenvolvimento uniram sua avidez por crédito aos estímulos de se endividarem, com taxas elevadas destinadas aos banqueiros de Nova York, em contrapartida, antes de 1973, segundo David Harvey em seu livro “O Neoliberalismo: História e Implicações”, a maioria dos investimentos externos aplicados pelos EUA era ‘direto’ e voltado para a exploração de recursos básicos [petróleo, minérios, matérias-primas, produtos agrícolas] ou para cultivo de mercados específicos [telecomunicações, automóveis, etc.] na Europa e na América Latina. Se a dependência das importações de petróleo dos EUA ramificava-se em uma estratégia geopolítica, a dependência das exportações de petróleo, da maioria dos países da ‘Comunidad Andina de Naciones’, também não deixava de ser um anverso estratégico? Em uma espécie de drenagem andina dessa ramificação geopolítica norte-americana?

Venezuela, Equador, Colômbia e Peru são grandes exportadores de petróleo e têm nos EUA o principal mercado de destino, mal ou bem, mesmo ressaltando a diminuição dessas importações desde o início do século XXI. Na Venezuela, a vida econômica e política abrangem o papel desempenhado pelo petróleo e a função protagonista do Estado, ou seja, o Estado tende a ser o único proprietário do petróleo, conta com 66 bilhões de barris em média, gerido em sua maioria pela ‘Petróleos de Venezuela’ [PDVSA], exportava quase 70% de petróleo para os EUA em 2003; no Equador, desde 1970, o petróleo passou a ser o principal produto de exportação, além de possuir reservas em torno de 2,1 bilhões de barris, com uma produção próxima de 415 mil barris/dia; a Colômbia produz em torno de 815 mil barris/dia, grande parte administrados pela antiga estatal ‘Empresa Colombia de Petróleo’ [Ecopetrol] que foi privatizada, em 2003, o petróleo se mantinha como o seu principal produto de exportação para os EUA, algo como 33,6%; o impacto do petróleo na composição da pauta de exportações do Peru apresenta um decréscimo, mas até 1996, o petróleo ainda era o principal produto de exportação para os EUA; na Bolívia, todavia, o que constava eram as suas reservas de gás natural, sob acordos bilaterais com o Brasil e investimentos do BNDES.

Este é um panorama geoeconômico dos campos de petróleo andinos apresentado por Rafael Duarte Villa, em seu artigo “Os Países Andinos: tensões entre realidade doméstica e exigências externas”, que se sobrepõe, pari passu, a um panorama geopolítico narcoterrorista, que circunda no imaginário militar dos norte-americanos. Mas afinal, de que modo esses países sul-americanos associam-se ao narcotráfico? Como uma guerra às drogas pode ser territorializada na Amazônia Andina, em torno de campos de petróleos e de ‘latifúndios genéticos’? O que há no narcoterrorismo capaz de acionar uma ‘guerra às drogas’ e detonar essa ‘bomba ecológica’?

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