sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Águas Profundas e Biomassa [high tech III]


Os Estados Unidos conseguiram um aliado importante no Oriente Médio, quando compactuaram com o golpe do xá Reza Pahlevi, após a nacionalização do petróleo iraniano, em 1953, exatamente quando a Petrobras foi criada, momento em que o Brasil estava na total dependência das multinacionais para a importação de petróleo e derivados. Tratava-se não só de assegurar uma riqueza que o Brasil parecia potencialmente possuir, devido as suas vastas áreas sedimentares, mas também de estabelecer um organismo forte e capaz de sobreviver no complexo mundo do petróleo.

Após um breve período, de 1953 a 1979, os Estados Unidos estavam mais envolvidos com sua expansão militar capitalista em oposição ao poder soviético, do que particularmente com a conquista de petróleo via guerra, aconteciam mais acordos comerciais desiguais entre os países proprietários de reservas naturais e as empresas norte-americanas, a um passo de tornarem-se multinacionais. Trata-se do período em que os EUA mantiveram o seu apoio iraniano do xá até a revolução islâmica dos aiatolá. Mas a partir da crise de 1973, com o aumento dos preços do petróleo, beneficiando diretamente os países produtores de petróleo, que foi acompanhado da institucionalização da OPEP, os campos petrolíferos começaram a se tornar áreas de enorme cobiça por parte dos EUA, grande potência que demandava um enorme consumo por barris de petróleo. Percebe-se o início de um acesso militarizado às reservas de petróleo por parte dos EUA, ao mesmo tempo um apoio irrestrito a governos democráticos ou autoritários, em princípio não interessava a forma governamental, mas sim se esses governos estavam dispostos ou não a representar os Estados Unidos em escala regional, principalmente no Oriente Médio e na América Latina, sobre o primeiro, conferir as análises de David Harvey em seu livro “O Novo Imperialismo”, sobre o segundo, destaca-se o livro “As Veias Abertas da América Latina”, escrito por Eduardo Galeano.

As guerras intestinas no Oriente Médio e as ditaduras na América Latina representam esse passado recente, em que os EUA detonaram guerras e pilharam recursos de nações inteiras, principalmente o petróleo, em busca de mais poder. Embora no Brasil não obtivesse reservas suficientes de petróleo prospectadas em seu território, a opção não foi a guerra por hidrocarbonetos nem a pilhagem de recursos, mas obtenção a reservas petrolíferas através do desenvolvimento de alternativas tecnológicas. A presença da empresa estatal Petrobras no Brasil que antecedeu e procedeu a crise de 1973, com destaque para dois ramos de desenvolvimento tecnológico: a expansão para a exploração de petróleo em águas profundas e a conquista por bioenergia tornaram-se alternativas expressivas.

Com a elevação dos custos de perfuração no final da década de 1960, a ‘perfuração submarina’ mostrou-se, alongo prazo, uma das opções mais promissoras. A Petrobras investiu, a partir de 1969-73, em explorações que redirecionavam suas pesquisas de terra para o mar, acompanhando uma tendência mundial. A Petrobras desenvolveu tecnologia própria para antecipar a produção de petróleo para, com a implantação de infra-estruturas definitivas de produção em águas profundas, o que aconteceu no final da década de 1970, com os sistemas antecipados instalados na bacia de Campos, em Cação [Espírito Santo], Bahia-Sul e Curimé [Ceará], conforme Melvin Conant e Fern Racine Gold em seu livro “A Geopolítica Energética”.

Para compensar a escassez em combustíveis fósseis, o Brasil despontou para a ‘era da biomassa’ como relevante fonte de energia, apta a fornecer hidrocarbonetos, a partir da enorme reserva de biomassa vegetal, o clima tropical e o solo propícios para produzir e repor continuamente energia originária de biomassa. Desde que se compreenda que o petróleo é biomassa, porém fossilizada. Deste modo, como marco histórico, o Programa Pró-Álcool, instituído em 1975, incrementou a produção do etanol para a fabricação de automotor, suprindo algumas indústrias químicas, de acordo Carlos de Meira Mattos, em seu livro “Geopolítica e Trópicos”. J. W. Bautista Vidal, físico brasileiro que sistematizou a noção de biomassa e deslocou, com efeito, a riqueza dos países temperados para os trópicos, o que para muitos representou uma revolução no entendimento da relação norte-sul. Marcava-se o período em que a população do Brasil começou aos poucos a deixar de lado a ‘alienação tecnológica’, a noção de que a tecnologia deveria ser importada de outros países. O ‘território dos trópicos’ tornou-se um lugar de mudança de direção do consumo e da produção de energia, a passagem do petróleo [fóssil] à biomassa [vegetal].

Questiona-se estruturalmente, pois as consequências desses projetos altamente distintos que envolveram os EUA [na América do Norte] e o Brasil [na América do Sul] na busca por acesso aos campos petrolíferos. De um lado, os incessantes bombardeios com fins políticos para facilitar o acesso ao petróleo pelos norte-americanos, de outro, o avanço inovador da companhia de Petróleo nacional brasileira desde 1953, que passando pelos mesmos efeitos da crise definiu metas alternativas para obter acesso ao petróleo. Ressalta-se, enfim, o monopólio nacional sobre as reservas de petróleo em subsolo brasileiro, sobretudo através da manipulação produtiva da companhia estatal Petrobras, ou seja, com forte regulamentação e intervenção do Estado. Afora a estratégia paranóica e sanguinária norte-americana, analisa-se a estratégia produtiva brasileira ao enfrentar a crise de 1973, com alternativas específicas de prospecção de petróleo, ou seja, a constituição de um trabalho intelectual, imaterial especializado em exploração petrolífera, um General Intellect destinado a desenvolver biotecnologia no Brasil, em plena era biopolítica.

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