quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Patologia e Catástrofe [new biotech II]


Analisar a política como a continuação da guerra talvez seja tão cruel quanto reconhecer o seu inverso, ou seja, a guerra como a continuação da política por outros meios, decerto nem mesmo as ‘trincheiras’ mudem, mas provavelmente, de Carl von Clausewitz a Michel Foucault, modifiquem as paisagens, os recontros, porque os soldados são facilmente reconhecidos. Não só no Brasil, mas no mundo, sabe-se que há dois campos de confronto: em termos políticos, o liberal e o desenvolvimentista, ou econômicos, o agro-exportador e o urbano-industrial. Há indústria e mercado financeiro em ambos os casos, mas a lógica se inverte, quando a indústria financia o mercado de valores [urbano-industrial] e quando a especulação endivida a indústria [agro-exportador]. Esclarece-se que os ‘fundamentalistas’ deixam de ser um campo específico, porque eles se imbricam ora num ora noutro campo. O teatro de operações da guerra é binário, portanto, não ternário, sendo assim apenas sob uma ilusão de óptica.

As tropas se dividem no campo político da guerra, de um lado, os profissionais liberais se estendem, majoritariamente, no continuum jurídico-biológico-informacional, de outro, a prole de operários. Definem-se, pois, as estratégias dos liberais [tucano-democratas] nessa escalada às eleições de 2010, ao mesmo tempo discutem-se as posições de seus ‘recrutas' em seu continuum. O gênio da guerra liberal – a biomedicina, especificamente, e a biologia, em geral, apelam para o discurso científico e alcança um duplo alvo: o corpo e o ambiente, a patologia e a catástrofe, enquanto a engenharia genética fica em latência e perde para a epidemiologia e para a ecologia. Questiona-se por objetividade, então, o que está por trás dos pobres obesos que não estava sob a fome endêmica? O que está por trás das enchentes e das catástrofes que não estava por trás da seca? Óbvio, a industrialização. A vilã clássica do meio ambiente sempre foi a indústria, desde os mais remotos desequilíbrios às insistentes emissões de carbono. Do mesmo modo, a obesidade é um efeito perverso da ingestão de comida industrializada. Não há remédio, não há manejo, há desindustrialização. A partir deste discurso biológico genial, pautado nas ciências ‘duras’, os advogados, juristas, legislarão e punirão na medida em que os meios de comunicação legitimarão os atos jurídicos diante as massas.

Os recentes episódios ambientais [legislação amazônica, enchentes de sul a nordeste do país] e epidemiológicos, biomédicos [da gripe A ao antitabagismo em São Paulo] que aterrorizam o Brasil são as táticas mais evidentes dessa estratégia liberal ‘ubuesca e grotesca’, para usar termos foucaultianos, que se auxiliam dos mass media, como elemento relativamente novo e diferencial desse ‘arsenal arcaico’ da direita global, para as eleições brasileiras.

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