quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Golpes e Pactos ad infinitum [Zelaya e Uribe]


Reconhece-se que uma estratégia norte-americana se estende até os dias de hoje, com os mesmos objetivos, mas com os efeitos um pouco alterados, ou seja, proporcionam dificuldades que ainda não tinham sido encontradas. Atualmente, regiões como as do Oriente Médio e da América Latina, [1] ainda continuam os principais campos de petróleo explorados pelos EUA, do mesmo modo que [2] regimes autoritários são apoiados nessas regiões, desde que assegurem os interesses estadunidenses, assim como [3] tornar essas áreas como zonas de manobras logísticas militares.

Do complexo domínio capitalista destacam-se as práticas econômico-neoliberais dos EUA que expõem três componentes intrinsecamente articulados: a] as forças armadas; b] o desenvolvimento tecnológico; c] os bancos e instituições financeiras. Das forças armadas desenvolvem-se paralelamente um ramo da indústria, belicoso, que impulsiona as inovações tecnológicas, tais como os setores de velocidade e visão [transporte e informação] amplamente analisados por Paul Virilio, como meios essenciais dos ataques e das instalações militares em áreas de exploração. Essa tecnologia, que resulta desses impactos das forças armadas em áreas periféricas de exploração precisa, em geral, ser assimilada e adaptada para o consumo civil, a fim de servir a indústria de massa, em especial, complexos industriais multinacionais, movidos a capital privado. São empresas que tendem a perder grande parte de seus ativos quando se desnacionalizam, quando se instalam em outros países, apesar de manter apenas o controle de suas ações e movimentação financeira em seus países de origem – o processo conhecido por desindustrialização dos países centrais. Os bancos e instituições financeiras são fundamentais nesse processo porque financiam essas multinacionais, com altos juros e criação de capital fictício, capazes de sustentar elevados recursos em longos prazos.

Essa organização estratégica se desencadeia a partir da ocupação militar em áreas providas de recursos naturais [como petróleo, biodiversidade, minerais, ferro, etc.] e, com efeito, desprovida de segurança, geralmente em países pobres ou em desenvolvimento. Essa invasão militar garante o acesso das empresas privadas multinacionais, logo, retroalimentando o crédito nas instituições financeiras e valorizando as ações em bolsas de valores. Essa estratégia está desgastada, sabe-se disso, mas parece que continua sendo a única alternativa norte-americana de tentar desintoxicar os papéis podres bancários e de reativar as privatizações empresariais nos países em desenvolvimento, que mantêm ainda algumas estatizações em setores estratégicos, além de impulsionar as forças armadas norte-americanas a desenvolver tecnologias, que são destinadas, principalmente, para a assimilação das indústrias privadas e de massa.

Foi desse modo que a CIA organizou o golpe que derrubou o governo democraticamente eleito de Mohammed Mossadegh, que nacionalizou os campos de petróleo do Irã, o que se seguiu com a substituição do xá Reza Pahlevi em 1953 [apoiada pela CIA]. O xá firmou contratos referentes ao petróleo com empresas norte-americanas, sem devolver os ativos às empresas britânicas que Mossadegh havia nacionalizado. Desse modo o xá tornou-se um dos guardiães mais importantes dos Estados Unidos na região petrolífera do Oriente Médio. Trata-se de uma estratégia antidemocrática dos EUA, que os levaram a afirmar cada vez alianças com ditaduras militares e regimes autoritários, o que se percebeu de modo espetacular na América Latina a partir da década de 1960, segundo David Harvey em seu livro “O Neoliberalismo: História e Implicações”. Nos últimos cinquenta anos, pois os EUA tornaram o seu projeto ‘democrático’ mais antidemocrático do mundo, ou seja, aliou-se e incentivou regimes autoritários, totalitários, que defendessem os interesses econômicos norte-americanos.

Destaca-se no pós-guerra, de um lado, a aliança com o xá do Irã, na década de 1950, bem como sua derrubada, em 1979, pelo o aiatolá Ruholá Khomeini, que pregava uma espécie de ‘governo islâmico total’, além do incentivo ao governo do Iraque [inclui-se o de Saddam Hussein] a entrar em guerra contra os seus vizinhos iranianos, de 1980 a 1988, um dos conflitos mais sangrentos do final do século passado. De outro lado, da década de 1960 até por volta da década de 1980, um encadeamento de regimes totalitários na América Latina alinhou-se aos Estados Unidos, que não só favoreceram o acesso às reservas mineiras, por exemplo, de ferro e petróleo, essenciais para a indústria militar, bélica, como se tornou campo de todo tipo de manobras logísticas [o canal do Panamá e as diversas bases áreas militares instaladas ao longo da América Central e do Sul], sobretudo os países latino-americanos foram pontos de aplicação da ‘tecnologia de poder’ capitalista, para prolongar e acirrar ao máximo o conflito bipolar com a URSS.

Frida Modak afirmou, em recente artigo “Os Interesses Econômicos que sustentam o Golpe em Honduras” postado no site oficial de “Agência Carta Maior”, que este país tem muito petróleo, conforme mostraram as prospecções feitas por uma empresa norueguesa há um ano, a pedido do presidente Zelaya, presidente deposto, que acionou judicialmente as empresas estadunidenses que vendiam petróleo caro a seu país e se juntou ao grupo Petrocaribe, criado pela Venezuela. O projeto de Zelaya para a nova Constituição previa que os recursos naturais de Honduras não poderiam ser entregues para outros países. O grupo golpista liderado por Roberto Micheletti, um empresário do setor de transporte que fez fortuna, fomentou a invasão de centenas de soldados à casa do presidente Manuel Zelaya e o expatriaram para a Costa Rica, às 5 horas da manhã do dia 28 de junho de 2009.

Em reportagens publicadas pela Folha On Line, desde o início de agosto de 2009, sobre um acordo que facilita o acesso dos EUA a três bases da Força Aérea colombiana, situadas em Palanquero, Apiay e Malambo. Os governos da Colômbia e dos Estados Unidos discutem, além disso, a permissão aos americanos para utilizar três bases militares na Colômbia. O novo acordo, previsto para ser finalizado neste mês, permitirá a Washington manter 1.400 pessoas entre militares e civis nos próximos dez anos e compensará o recente fechamento da base americana de Manta, no Equador. Os EUA preveem investimentos de até US$ 5 bilhões pelo novo pacto.

Após a persistente manutenção da guerra contra o Iraque, por W. Bush, no início da década de 2000, e a propósito das bases colombianas e o golpe militar em Honduras: percebe-se através das evasivas de Barack Obama o reconhecimento de que o tempo não passou, de resto mantêm-se as mesmas estratégias de há cinquenta anos atrás, pelo menos, quiçá ad infinitum, mas encontram-se territórios cada vez mais resistentes. Se fossem identificados os níveis de uma informação estratégica, de acordo com Washington Platt em seu livro “A Produção de Informações Estratégicas”, que interrogam a ‘situação’[o que estão fazendo?], as ‘possibilidades’ [o que podem fazer?] e as ‘intenções’ [o que farão?] dos norte-americanos. Diz-se que estão promovendo as mesmas práticas, mas as possibilidades são bem mais limitadas e suas intenções se relativizam na medida em que muitos países latino-americanos e do Oriente Próximo já não se camuflam como nações amigas, revestem-se, portanto de um explícito nacionalismo, principalmente para demarcar seus recursos naturais e deixaram de ser dependentes dos capitais provenientes exclusivamente das instituições financeiras com forte apego aos cofres norte-americanos. Percebe-se, enfim, que Barack Obama não tem muita escolha e maximiza velhos truques [golpes militares em áreas com campos de petróleo e acordos para manter bases militares próximas], entretanto com menores efeitos comparados aos alcançados no passado. Entre republicanos e democratas, o que levou os EUA a não produzir tecnologia para prospectar petróleo, mas a capturá-lo à base de embustes políticos e truques maquiavélicos em países periféricos?

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