quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Um Camponês de Mao


Define-se o camponês como aquele que trabalha a terra e, em geral, produz primordial-mente para o seu próprio consumo, mas ele é proprietário ou tem acesso às terras e aos equipamentos necessários e, ao mesmo tempo, está parcialmente integrado ou subordinado a um sistema econômico mais amplo.

Mao Tsé-tung reconheceu que era preciso, para a categoria ‘campesinato’ ter sentido, dividi-la em três tipos, todas em função da propriedade da terra: os camponeses ricos [donos de amplas extensões de terra e de bons equipamentos, além de contratar o trabalho de outros]; os camponeses intermediários [donos de terras e equipamentos suficientes, contam apenas com o trabalho de sua própria família]; os camponeses pobres [arrendam terras ou são meeiros, em geral, vendem o seu trabalho a outros]. Essa divisão criaria, para Mao, uma tendência centrífuga em cada extremidade: no topo, os camponeses ricos possuem propriedades suficientes para empregar outros e, na base, os camponeses pobres pouco diferem dos trabalhadores agrícolas, pois possuem propriedades em quantidade insuficiente. Os camponeses intermediários por serem mais discretos e independentes, nesse processo, praticamente desapareceriam, sendo levados para um ou outro lado da clivagem: uns poucos ricos se apropriariam de mais terras, enquanto a maioria dos camponeses pobres tenderia a ser excluídos das formas tradicionais de posse da terra. Para Mao Tsé-tung o campesinato é fundamentalmente passivo, por isso deve se aliar ao ‘sujeito revolucionário’ político – o proletariado industrial, e por ele ser liderado.

A revolução chinesa foi na realidade uma revolução conduzida com o campesinato: o foco político de Mao voltou-se para o campesinato não como ele era, mas como ele poderia ser. O projeto maoísta buscava transformar politicamente os camponeses. Superaram sua passividade e, ao longo do processo revolucionário, os camponeses tornaram-se comunicativos, cooperativos e articulados como sujeito coletivo ativo. O sentido primordial das guerrilhas e das lutas camponesas do projeto maoísta, em suma, não se orientou para a defesa da terra, em vez disso, transformou essas lutas na própria vida social chinesa, como afirmaram Michael Hardt e Antonio Negri em seu livro “Multidão”. Paradoxalmente, a vitória da revolução camponesa coincidiria com o fim do próprio campesinato, como categoria política distinta, ou seja, o objetivo político final do campesinato era, aos poucos, destruir-se como classe. Enfim, a figura do camponês tenderia a desaparecer, assim como a figura do operário industrial, do trabalhador do setor de serviços e de todas as demais categorias separadas, assim as lutas de cada setor tenderiam a se transformar na luta de todos.

Os camponeses elevaram a sua produção de grãos em mais de 70%, entre 1949 e 1956, em cuja ‘Revolução Popular’ Mao Tsé-tung assinalou as três metas principais: a coletivização da agricultura camponesa [1955-7]; o ‘grande salto avante’ da indústria [1958]; os dez anos de Revolução Cultural, que se alastrou até a morte de Mao [1976]. A ‘Crença Maoísta’ residia na capacidade de transformação pela vontade do povo, quando ele está disposto a ser transformado e, portanto, a participar, criativamente, com toda a engenhosidade tradicional chinesa.

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