terça-feira, 25 de agosto de 2009

Espaço Aéreo da América do Sul [High Tech I]


A lei do Estado não é a do tudo ou nada, ou seja, não se trata de sociedades com Estado e sociedades contra o Estado. A lei do Estado é a do interior e a do exterior, para Gilles Deleuze e Félix Guattari em “Mil Platôs”. Quando se pensa em soberania, percebe-se que ela só reina sobre aquilo que ela é capaz de interiorizar, de apropriar-se localmente. O ‘fora’ do Estado é tanto ‘política externa’ como, principalmente, um conjunto de relações entre os Estados. O fora pode aparecer como máquinas mundiais [grandes companhias, complexos industriais, até mesmo formações religiosas] ramificadas pelo globo, mas o fora também irrompe como ‘mecanismos locais de bandos’, minorias que buscam afirmar os direitos de sociedades segmentárias contra os órgãos estatais. Duas direções, entre tantas, se desenvolvem no mundo moderno: certas ‘máquinas mundiais’ e uma espécie de ‘neoprimitismo’. Em geral, o Estado se reproduz como interioridade, sempre idêntico a si, porque ele não se oculta, procura ser reconhecido pelo público. Enquanto os ‘bandos’ e as ‘organizações globais’ se apresentam como ‘máquinas de guerra’, polimorfas e difusas, exteriores aos Estados.

Na América do Sul, não é difícil detectar o ‘narcoterrorismo’ como esse tipo de formação de bandos ‘neoprimitivistas’, de ‘mecanismos de bandos’, espécie de máquina de guerra que busca impor sua subjetividade aos Estados. Deixe-se de lado um pouco o narcoterrorismo, para que se possa identificar um dos complexos militares e industriais sul-americanos, que se direciona também em suas metamorfoses, mas através de megamáquinas, instaladas fora dos aparelhos identitários de Estados, que se renovam em ciclos industriais e tecnológicos. Identifica-se a organização desse complexo, ao mesmo tempo em que se destaca o setor aeroespacial. Questiona-se então por que, no amplo rol tecnológico, seleciona-se na América do Sul, primeiramente, o desenvolvimento aéreo?

Primeiramente, ressalta-se que a evolução dos armamentos e das estratégias políticas na história das nações, depois do multissecular domínio da força naval, aponta-se para o predomínio aéreo, da fatalidade de uma guerra do alto, no céu, que eleva o combate a níveis extremos e implica o imperativo de uma arma absoluta, afirmou Paul Virilio em seu livro “Estratégias da Decepção”. Em seguida, percebe-se que neste arsenal aéreo o que está em jogo não são apenas aeronaves, mas redes de satélites e sistemas de radares; satélites de escuta de sinais eletrônicos a radares geradores de imagens; Global Positioning System, Global Information Dominance; instrumentos de teledetecção, drones de reconhecimento automático, entre outros mecanismos – um ‘ecossistema de armas aéreas, orbitais e cibernéticas no espaço hertziano’.

A partir dessa orientação geoestratégia peculiar que o espaço aéreo e suas tecnologias alcançaram no final do século XX e início do século XXI, interroga-se se na América do Sul foi constituído um know-how como esses, trabalho intelectual típico General Intellect ‘aeroespacial’? Ou assinala-se apenas um riacho que Giscard d'Estaing via se irromper de sul a norte, abrindo-se para derrotar planos de organização, como a antiga Ordem Mundial bipolar posta leste a oeste? A máquina de guerra que Gilles Deleuze e Claire Parnet viram, em seu livro "Diálogos", como um corsa aqui ou um levante ali, um sequestrador de avião, seja como for, para eles, sempre haverá algo ou alguém para surgir no sul...

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