quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Han e Confucionismo


Reconhece-se a existência de uma única e distinta civilização chinesa, desde 1500 a.C., ou de duas civilizações chinesas, uma sucedendo a outra, nos primeiros séculos da era cristã. Trata-se de uma civilização ‘sínica’, denominada por alguns estudiosos, que tem no Confucionismo um dos seus principais componentes, o que descreve uma cultura comum da China e das comunidades chinesas do Sudeste Asiático, bem como as culturas com ela relacionadas do Vietnã e da Coréia. A ‘ética confuciana’ ressalta os valores de autoridade, hierarquia, subordinação dos direitos e interesses individuais, importância do consenso, evitar ‘confrontação’, ‘salvar a face’ e, de modo geral, a supremacia do Estado sobre a sociedade e da sociedade sobre o indivíduo.

No início do século XX, alguns intelectuais chineses identificaram o Confucionismo como a fonte do atraso chinês, em contrapartida, no final do século XX, líderes políticos e cientistas sociais chineses louvaram o Confucionismo como a fonte do progresso chinês. Na década de 1980, o governo chinês começou a promover interesse pelo Confucionismo, proclamando-o ‘a’ corrente principal da cultura chinesa, conforme Benjamin L. Self em seu artigo “Changing Role for Confucianism in China”, no New York Times, agosto de 1991. Assim, as atitudes tomadas pelo Confucionismo contrastam com a primazia da liberdade, igualdade, democracia e individualismo, concebidos pelos norte-americanos, além de sua propensão para desconfiar de governos e opor-se à autoridade. Desse modo, mesmo quando os líderes chineses queriam justificar a democracia ou o autoritarismo, procuravam legitimá-los em sua própria cultura e não em concepções ocidentais importadas. Um nacionalismo foi promovido através deste regime, o Han, que contribuiu para a neutralização das diferenças lingüísticas, regionais e econômicas em 90 % da população chinesa e, com efeito, não deixou de sinalizar as diferenças étnicas não-chinesas, constituídas por 10 % da população da China, mas ocupam 60 % de seu território.

O nacionalismo Han fornece as bases de oposição ao cristianismo, às organizações cristãs e ao seu proselitismo, que atrai talvez 5 % da população chinesa, como alternativa após o colapso maoísmo-leninismo. Percebe-se, dessa forma, que a China é um país dividido por ‘linhas de fratura’, termo cunhado por Samuel Huntington em seu livro “O Choque de Civilizações”. Linhas de fratura entre os chineses Han, budistas tibetanos, turcos muçulmanos. A China abrangeu, ao longo de sua história, uma ‘Zona Sínica’, que incluía a Coréia, o Vietnã, as ilhas de Liu Chiu e, às vezes o Japão; uma ‘Zona Asiática Interior’, de não-chineses [manchus, mongóis, uigures, turcos e tibetanos] controlados por motivos de segurança; e, uma ‘Zona Exterior’ de bárbaros, que pagariam impostos e reconheciam a superioridade da China.

A civilização sínica contemporânea estrutura-se de modo semelhante: o núcleo central da China Han; as províncias periféricas que fazem parte da China, mas que detêm considerável autonomia; províncias que legalmente fazem parte da China, mas com grande parte da população chinesa [Tibete, Xinxiang]; sociedades chinesas que têm probabilidade de vir a ser parte da China, segundo determinadas condições [Hong Kong, Taiwan]; um Estado predominantemente chinês [Singapura]; populações chinesas influentes na Tailândia, Vietnã, Malásia, Indonésia e Filipinas; e sociedades não-chinesas [Coréia do Norte e do Sul] que, mesmo assim, compartilham muito da cultura confuciana chinesa. Durante a década de 1950, a China se definir como aliada da União Soviética, após a ruptura sino-soviética, ela passou a se ver como líder do Terceiro Mundo, ou melhor, contra ambas as superpotências. De um modo oscilante, a China se alinhou com os Estados Unidos durante a década de 1970 e, depois, passou para uma posição equidistante na década de 1980. Com o fim da competição das superpotências, a China redefiniu o seu papel nas questões mundiais e fixou duas metas: tornar-se a defensora de sua cultura e retomar sua posição histórica como potência hegemônica na Ásia Oriental.
A partir da década de 1990, a ‘Grande China’ tornou-se uma realidade cultural, econômica e política, que tem crescido rapidamente. Os chineses foram responsáveis pelo espetacular desenvolvimento econômico das décadas de 1980 e 1990 –, na China continental, nos Tigres [dos quatro, três eram chineses] e nos países do Sudeste Asiático, cujas economias estavam dominadas pelos chineses. Um aumento de poder é visível entre as civilizações asiáticas, com a China se apresentado como a sociedade com maior probabilidade de desafiar o Ocidente [EUA e Europa] pela influência mundial.

Nenhum comentário:

Postar um comentário