quarta-feira, 5 de agosto de 2009

'Ilhas' no Pearl e no Yangtzé


Na tradição revolucionária marxista-leninista, julgava-se necessário organizar a acumulação primitiva como premissa dos programas de modernização de países que ainda não passaram pela iniciação ao desenvolvimento capitalista, o que foi perceptível nas acumulações oriundas da coletivização forçada da agricultura soviética e chinesa. Essa acumulação primitiva na China procurou inseri-la no capitalismo global, como participante ativa, ao desencadear uma taxa de crescimento econômico [9,1% em 2003] e de desenvolvimento público capaz de absorver grande parcela de excedentes de capital do mundo. Essa drenagem de capitais excedentes para a China vai ser catastrófica para a economia norte-americana. As exportações e importações asiáticas para a China têm tido um espantoso crescimento, ao mesmo tempo em que o mercado de consumo chinês cresce a um ritmo acelerado, além de ser o segundo maior importador de petróleo, atrás apenas dos Estados Unidos.

A situação da China encontra-se, entretanto, repleta de perigos: [1] uma perda líquida de empregos na produção desde 1995, devido à falência de empresas em cidades e lugarejos nos ‘cinturões de ferrugem’, que circundam Beijing e Xangai; [2] a falta de energia elétrica e a instabilidade das relações de trabalho; [3] as desigualdades regionais e de classe aumentam, mesmo com as políticas oficiais destinadas a combatê-las, enumerou David Harvey em seu livro “O Novo Imperialismo”. Não resta dúvida de que os investimentos realizados no país estão puxando boa parte da economia global, segundo proposições econômicas vastamente documentadas, investimentos desse tipo são bem mais eficazes em estimular o crescimento agregado do que o consumismo. A transição do poder para a China e para a Ásia, de modo geral, está antes, portanto, em aceleração do que em redução de velocidade. Assim, a China se tornou um recipiente de investimentos externos, o valor líquido passou de 5 milhões de dólares em 1991 a cerca de 50 bilhões de dólares em 2002.

Desde, 1998, os chineses procuram absorver seus vastos excedentes de trabalho mediante investimentos financiados por dívidas em megaprojetos, como a represa para desviar a água do Yangtzé para o rio Amarelo; novos sistemas de trens subterrâneos e vias expressas construídas em cidades importantes; propõe-se implantar 13 mil quilômetros de novas ferrovias; desenvolve-se um entroncamento de alta velocidade entre Xangai e Beijing, e um que vai para o Tibete; infra-estruturas urbanas estão sendo reformadas em toda parte. Trata-se de investimentos estruturais que conectam diversos pontos do território chinês, com a finalidade de redimir as ‘ilhas’ de desenvolvimento no país, tal como nos mapas das cidades européias medievais que criavam ‘ilhas’ de direitos burgueses no meio das relações de produção feudais, outro exemplo disso, são os postos comerciais das companhias das Índias Orientais ou da bacia do rio Hudson. As zonas de empreendimento [destinadas a investimentos estrangeiros] atualmente estabelecidas na China, não deixam de ser esse tipo de pequenas ‘ilhas’, capazes de gerar impulsos que chegariam a engolfar toda a nação: o delta do rio Pearl e o baixo Yangtzé [Xangai] contêm dinâmicos centros de poder na China, que dominam em termos econômicos, não necessariamente político, todo o resto do país.

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