sábado, 22 de agosto de 2009

Bomba Ecológica [biotech andean I]


Não há dúvida alguma que se necessita preservar, conservar e proteger os biomas, a biocultura, em toda superfície terrestre. Do mesmo modo que se deve condenar a exploração indevida dos recursos naturais, a destinação inadequada dos resíduos, o avanço das fronteiras agrícolas, a proliferação de queimadas. É certo que se reconhece a eficácia da legislação ambiental, não só pelo gesto de sua promulgação, mas pelas devidas condições infra-estruturais para o aparelhamento policial [florestal e ambiental] e para a aplicação corretiva de multas, penas. Óbvio, uma série de ‘questões’ ecológicas já desfilariam a partir daí, porque se sabe, talvez a única coisa que se sabe e nenhum de nós é capaz de fingir desconhecer: a total falta de consenso que se integra aos debates ambientais, em especial no Brasil. Entretanto, uma questão torna-se latente: a que interesses políticos esse discurso ambiental, mesmo confuso e disparatado, se refere? Em que medida essas práticas discursivas, difusas e descontínuas, podem ser consideradas estrategicamente geopolíticas?

Preservar a natureza e mediar legalmente a exploração de recursos naturais não deixa de contornar, especificamente, uma démarche geopolítica, principalmente pela confluência de interesses internacionais, transnacionais, na manutenção da hegemonia global de reservas naturais, por exemplo, de petróleo, que se manteve legítima, mesmo após o 11 de setembro, através dos discursos e das práticas neoconservadoras norte-americanas. Mas de modo geral, sob uma geopolítica que acaba por gerar fluxos de incertezas entre a distinção desigual da tecnologia e da natureza, Bertha K. Becker procurou politizar o discurso ecológico, em nota introdutória ao livro “Redescobrindo o Brasil: 500 anos depois”, em que a ‘questão ambiental’ torna-se um instrumento de pressão dos países centrais [detentores de tecnologia] sobre os países periféricos [detentores da natureza].

A política neoliberal, ávida por guerra, liderada pelos Estados Unidos, criou duas ‘bombas’ que se articulam entre si, que sobrepõem sua potência, segundo Paul Virilio: a ‘bomba informática’ e a ‘bomba genética’. Propõem-se aqui, não invalidá-las, pelo contrário, acrescente-se a elas um novo artefato bélico: a ‘bomba ecológica’. Entre a biotecnologia dos países do Norte e os biomas dos países do Sul, demarca-se um Theatrum da Guerra, composto por um tríplice recontro, sob batalhas sucessivas e interpostas: os campos de petróleo [habitat de hidrocarbonetos]; o narcoterrorismo [war on drug]; e os latifúndios genéticos [diversidade biocultural] na Amazônia Andina.

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