sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Coulomb-3, Bryce e Hadrian [high tech IV]


Criado em 1963, uma década após a criação da Petrobras, o Cenpes [Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello] passou a desenvolver pesquisas tecnológicas e de engenharia, como instrumento da Petrobras, desde 1973 instalado na Ilha do Fundão no campus da UFRJ. O Cenpes define-se, no âmbito do sistema da Petrobras, como órgão que se encarrega de planejar, coordenar, executar pesquisas e acompanhar o resultado de suas inovações tecnológicas.

Além das tecnologias de processo e de produtos, o Cenpes desenvolveu, em especial a partir da década de 1990, capacitação em bioestratigrafia, sedimentologia, geoquímica, robótica. Vários projetos desenvolvidos colocaram o Brasil como um país considerado detentor de alta tecnologia [high tech] no setor petrolífero: plataformas de produção para águas profundas; sistemas submarinos de produção; projetos para construção, ampliação e modernização de refinarias; robôs e veículos teleoperadores para trabalhos submarinos; catalisadores, motores, embarcações especiais; sistemas de ancoragem; programações para produção flutuante em águas com profundidade de 1000m, 200m, até alcançar 3000m; criação do robô ambiental híbrido criado em 1988, como parte do projeto de monitoramento ambiental do gasoduto Coari-Manaus, capaz de colher, fotografar e enviar imagens, além de captar sons, além de outros projetos de robótica que compõem os equipamentos automatizados que apóiam à limpeza e a desobstrução de dutos.

O final da década de 1970, os técnicos da Petrobras construíram um mapeamento geológico da costa nacional, que passou a ser referência para a Marinha Brasileira. Em 1986, dois mitos começavam a cair, a impossibilidade de auto-suficiência e a inexistência de petróleo na Amazônia. Na década de 1990, entra em operação a primeira plataforma semi-submersível totalmente desenvolvida por técnicos da companhia; a Petrobras iniciou o fornecimento de gasolina de Fórmula I para a equipe Williams; novos recordes mundiais são marcados na produção petrolífera em águas profundas. Em 2006 a Petrobras comemora a auto-suficiência sustentável do Brasil na produção de petróleo, logo em seguida, definem-se os marcos exploratórios da camada pré-sal, na faixa litoral sul-nordeste do país.

De fato, enquanto os EUA se apoiaram no xá Reza Pahlevi de 1953 até 1979, a Petrobras criou o Cenpes e iniciou o desenvolvimento de técnicas para exploração marítima e pesquisas sobre biodiesel. Quando os EUA ativaram a guerra entre o Irã e o Iraque entre 1980 e 1988, depois a guerra do golfo na década de 1990 até à guerra em 2003, a Petrobras ampliou sua área internacional de atuação comercial e produção de petróleo para todos os continentes do mundo, além de ter sido premiada sucessivas vezes com o prêmio Offshore Technology Conference, levando em consideração a alta tecnologia que se desenvolve no Cenpes, por seus engenheiros qualificados em áreas diversas, em especial, pelos avanços na robótica. Um ano antes de terminar os conflitos no Oriente Médio, entre Irã e Iraque, em 1987, a Petrobras avança para o Golfo do México, quando adquiriu participação e oito blocos no setor americano.

A companhia adquiriu prospectos exploratórios em águas profundas, em 2004, quando arrematou 37 blocos no quadrante inexplorado [Corpus Christi] em águas de 500 a 2 mil metros na direção do Estado do Texas. A atual carteira de ativos da Petrobras América em águas americanas soma 321 blocos no Golfo do México. A perfuração de dois poços, Das Bump e Hadran; as perfurações dos prospectos de Zion e Bryce; a delimitação das jazidas de Saint Malo; a descoberta de gás natural no campo de Coulomb North; e o poço Coulomb-3, com cerca de 40 metros de reservatórios de gás natural; ações essas que estão longe de se equivaler economicamente a edificação de bases militares [como as latino-americanas], prontas para a pilhagem [em diversas fontes de recursos de países periféricos] ou para instigar a guerra [entre países vizinhos produtores de petróleo]. Não é que o Brasil, desde meados do século XX, desenvolveu um tipo especial de tecnologia que percorre o céu [aeroespacial], o mar [águas profundas] e a terra [biomassa], de modo localmente determinado e globalmente instalado, ou seja, o resultado de uma geoeconomia high tech motivada por uma geopolítica anti-globalização, o que chegou a perturbar toda a ordem mundial, ao deslocar o eixo leste-oeste para o norte-sul, entre os ‘territórios dos trópicos’ e os ‘países do norte’.

Trata-se de sinalizar uma diferença teórica entre uma máquina de guerra metamorfoseada como complexo industrial-tecnológico e de uma máquina de guerra institucionalizada militarmente, que só tem por objetivo a guerra. A improdutividade de se explodir armamentos e a produtividade de se explorar desenvolvimento tecnológico, ou melhor, o consumo do exército norte-americano e a produção tecnológica de petróleo brasileira. As armas no norte e as ferramentas no sul, a distinção hostil entre os soldados e os trabalhadores. Eis uma das maiores diferenças entre esses dois tipos de General Intellect, de trabalho imaterial, intelectual, no tocante ao setor petrolífero, entre a América do Norte e a do Sul.

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