sábado, 19 de setembro de 2009

À Sombra dos Radares [Rafale II]


Os EUA adotaram, em setembro de 2009, uma ‘nova arquitetura de defesa’ contra o Irã, ao cancelar o 'escudo antimíssil' no Leste Europeu e substituí-lo por radares, sensores e interceptores. Assim, Clóvis Rossi indagou na F. São Paulo [18/09/2009] se não seria mais interessante que submarinos e aviões que o Brasil quer comprar [?]. A questão é o que se promete com o Rafale, que ele pode driblar, mais que os outros caças em licitação no Brasil, exatamente estes sensores e radares, ou seja, trata-se aparentemente de uma ‘aeronave-fantasma’, que precipita sua sombra e torna-se obscura nos radares, tal como o caça F117, usado pelos EUA na Guerra do Golfo por Bush-pai, Paul Virilio exemplificou essa tecnologia em "A Arte do Motor". Portanto, tecnologicamente o que se discute no Brasil é como driblar os radares, mas para Barack Obama o que está em questão é pura economia, poupar o 'luxo bélico', o que é óbvio após a crise dos papéis podres.

Desde 1976 o Brasil procura desenvolver essa tecnologia de radares, sensores e interceptores, como infra-estrutura básica no setor aeroespacial, com destaque para o pólo militar-industrial em São José dos Campos - SP. Por exemplo, o SISDACTA [Sistema Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo] foi estabelecido no país, com a primeira implantação em um polígono de 1.500.000 km2, entre Brasília-Rio de Janeiro-São Paulo-Belo Horizonte-Brasília, conforme João Baptista Peixoto em "Os Transportes no Atual Desenvolvimento do Brasil". Tratava-se de um sistema de detecção-radar através de unidades de detecção e de telecomunicações, estrategicamente localizadas para controlar aeronaves com ‘transponder’. De 1979 a 1973, entretanto, já se instalava um sistema nacional de telecomunicações por rede hertziana; de 1974 a 1984 incorporou-se ao sistema o satélite INTELSAT e, por fim, entre 1985 a 1988 desenvolveram-se dois satélites brasileiros, o Brasilsat I e II, histórico resumido, mas desenvolvido por Milton Santos e María Laura da Silveira em seu livro "O Brasil: Território e Sociedade no Início do Século XXI". O SIVAM [Sistema de Vigilância da Amazônia] realizou-se por meio de um convênio entre o Estado brasileiro e a empresa norte-americana Raytheon, em 2002, patrocinada e recomendada pelo governo dos Estados Unidos. Este acordo suscitou opiniões divergentes: cientistas nacionais identificaram o SIVAM como obra faraônica – uma "Transamazônica Eletrônica", além de criar relações de dependência desnecessária com os Estados Unidos.

Acontece que no âmbito do espaço hertziano, condutor dos sinais provenientes do espaço aéreo, explora-se a detecção multistática por meio de emissões não-cooperativas, mas o que isso quer dizer? Trata-se de um conceito soviético que põe o Radar obsoleto, uma vez que a televisão pode substituir os radares de vigilância ou de controle do tráfego aéreo e detectar em qualquer ponto do espaço atmosférico aviões em voo. A limitação só diz respeito ao alcance das estações transmissoras e retransmissoras de TV, segundo S. Brosselin, "Guerre des Ondes: le Radar Squatte la Telévision", em Le Monde de L'aviation, nº 12, maio de 1999. Observe! Como a Central Globo de Televisão, por exemplo, cobre todo o território brasileiro, o país inteiro está mergulhado no espaço hertziano da televisão. Nesse 'lençol eletromagnético' os sinais audiovisuais se comportam como os que são emitidos por radares contínuos. Quando um avião em voo é atingido por um sinal eletromagnético, ele retrodifunde uma parte deste mesmo sinal. Então, basta dispor de um receptor de televisão comum, mais duas antenas espinha-de-peixe simples e um sistema de tratamento e amplificação do sinal recebido, para detectar o aparelho. Esse 'ecossistema hertziano', de acordo com Paul Virilio em seu livro "Estratégias da Decepção", foi designado por "Silent Sentry", que a Lockheed-Martin revelou ao público no outono europeu de 1998. Quer mais? A vantagem desse sistema reside no caráter indestrutível desses detectores que cobrem o território inimigo, ou seja a 'arquitetura de detecção estratégica' se revela: com uma base de dados que engloba as milhares de antenas [de difusão das cadeias de TV e rádio] que varrem o globo e interconectando-as, o RADAR TV permitiria cobrir o conjunto dos espaços aéreos dos dois hemisférios. Portanto, Sr. Clóvis Rossi ainda tem dúvida que essa tecnologia já nos foi transferida, se não, já foi estabelecida e promovida em nosso território, tanto pelos militares da FAB quanto pela iniciativa privada.

A Guerra Fria acabou!? Mas fala-se em dissuasão no Brasil, como? Nunca se viu dissuasão sem 'bomba nuclear'. Energia nuclear é totalmente discriminada entre os ambientalistas, concorda-se, porém... É um escândalo o Brasil não ser considerado uma potência porque não possui ‘bomba nuclear’, ou melhor, enriquecimento de urânio, tecnologia nuclear, e ficar atrás da Índia, da África do Sul e da China. O que esse submarino com propulsão nuclear poderá justamente propiciar ao Brasil. Mas, isso não se discute entre os ecologicamente corretos, o que também não se discute é uma ‘economia antimíssil’ de Obama, barateada com sensores. Cá entre nós, o Brasil já emprestou dinheiro para o FMI demais nesses últimos anos e comprar essa aeronave da Boeing em fim de linha, ainda mais com possíveis embargos do congresso norte-americano seria uma loucura. Tudo isso ainda é suportável, porque em geral loucura não é crime, o que está sendo insuportável é a direita oposicionista na imprensa brasileira desejar de todas as formas que os EUA sejam beneficiados com essa licitação das Forças Armadas do Brasil. Portanto, enquanto Barack Obama se organiza com sensores, o Brasil busca uma forma de fugir deles!

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