quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Caças Fantasmas: Stealth Fighter [Rafale I]


O que está em questão na compra de caças Rafale [Dassault] que favorecem os franceses na busca por defesa e transferência tecnológica pelo Brasil? Historicamente, a política de ‘antecipação da industrialização’ referiu-se à decisão de ultrapassar a etapa da ‘substituição de importações’, o que encorajou a manufatura de novos produtos e o interesse por ‘transferência de tecnologia’. Essa ambição dominou as Forças Armadas Brasileiras desde meado do século passado, como destacaram Bertha K. Becker e Claudio Egler em seu livro “Brasil: uma Nova Potência Regional na Economia-Mundo”, especialmente em quatro setores estratégicos: aeroespacial, indústria bélica, nuclear e da computação.

As associações entre Estado e multinacionais se apresentaram de modo complexo no Brasil, o que se verificou com o desenvolvimento dos setores da computação e da indústria bélica. Com a criação da IMBEL [Indústria de Material Bélico], em 1975, e a concentração no seu interior de três grandes empresas [Avibrás, Embraer e Engesa] reforçou-se o processo de industrialização brasileira de bens de capitais. A participação do Estado brasileiro na produção industrial resultou na criação de uma holding como a IMBEL, colocando o país na lógica do capitalismo mundial, sob uma diversificação da produção e na internacionalização dos mercados.

A participação da IMBEL no setor da informática criou alguns problemas, por exemplo, com a criação da SEI [Secretaria Especial de Informática] responsável pela regulamentação de reserva de mercado para esse setor, o que gerou uma série de polêmicas internacionais, obtendo a IBM do Brasil como pivô, de acordo com Francisco Capuano Scarlato em ser artigo “O Espaço Industrial Brasileiro”. As regulamentações da SEI dificultaram a entrada de componentes para a fabricação de computadores pela IBM, assim os EUA foram motivados a retaliar e reagir à entrada de produtos brasileiros no mercado norte-americano. Com a liberalização da economia brasileira na década de 1990, entretanto as ações da SEI foram esvaziadas.

Acrescente-se a isso outro dado, em 1976 estava prevista a exportação de 76 aeronaves Bandeirantes para os Estados Unidos, mas houve uma reação da empresa Cessna que, junto ao governo norte-americano, tentou criar dificuldades para a compra desses equipamentos brasileiros, segundo João Baptista Peixoto em seu livro “Os Transportes no Atual Desenvolvimento do Brasil”. Neste mesmo ano, contudo a Embraer assinou um acordo com a Companhia Geral de Aeronáutica [empresa francesa] que possibilitaria a venda de aviões brasileiros para os mercados do Oriente Médio e da Europa. Percebe-se que as relações fortuitas entre Brasil e França não aconteceram recentemente, como por exemplo, entre a Embraer e a empresa aérea francesa [Air France], que são absolutamente diferentes das relações político-diplomáticas com governos norte-americanos, como o veto de W. Bush às vendas de super tucanos para Venezuela e Irã. Portanto, o posicionamento político do atual governo brasileiro em proveito da compra de caças fabricados na França em nada nos assustaria, como antecipou o presidente Lula no dia 07 de setembro de 2009. Saem perdendo a empresa Boeing e a sueca Saab em disputa com a Dassault uma operação que chega a 10 bilhões de dólares que envolve a aquisição de 36 aviões de combate Rafale.

Em uma análise fria e sob um cálculo de forças preciso, nem o F-18 Super Hornet [Boeing-EUA] muito menos o Gripen NG [Saab-Suécia] e tampouco o Rafale [Dassault-França] corresponderiam a um grande investimento de alta tecnologia? Por quê? Porque nenhum destes caças de combate possuem a propriedade de serem objetos voadores não detectáveis por radar, aeronaves de combate analisadas por Paul Virilio em seu livro “Estratégias da Decepção”, a partir das experiências norte-americanas no deserto do Golfo Pérsico, nas emboscadas da década de 1990 guiadas por Bush-pai. A tecnologia aeroespacial pressupõe atualmente esse tipo de dispositivo, portanto, as aquisições brasileiras não se referem a aviões furtivos [Stealth], como a invenção do F117, com força de penetração que desafia os raios de ondas radioelétricas dos radares, ao ponto de cegar as telas de controle – ‘aviões fantasmas’ que antecipam o desaparecimento de sua própria imagem. Deste modo, uma unidade do F117 poderia derrotar dezenas de qualquer um desses caças oferecidos em licitação para a Força Aérea Brasileira, mas depois dessa crise econômica mundial, esse caça furtivo deve estar enferrujando num dos galpões da força aérea norte-americana. Sem recursos financeiros para levantar alguns voos e sem frustrar sua tecnologia fantasma, realmente ele desapareceu das telas dos radares?

Neste caso, exigir a transferência de tecnologia é o mínimo que esses 10 bilhões são capazes de comprar, afinal são caças, em geral, em fim de linha. Em outras palavras, o Super Hornet está no limite de sua evolução, não tem mais potencial de desenvolvimento; o Gripen NG é um protótipo ainda, com apenas um motor, é o mais lento dentre eles e o mais barato, vende-se dois por um; o Rafale é o mais caro, com altos custos para manutenção e treinamento, por isso especula-se que se o Brasil não efetivar essa compra a empresa francesa não o produzirá mais. Mas foi a Dassault que desenvolveu a melhor tecnologia de invisibilidade, entre todos os outros caças em disputa pela FAB, isto é, os radares inimigos demoram mais tempo para perceber o Rafale, assim, com pilotos bem treinados, pode-se driblar as ondas radioelétricas tal como o F117. Sem dúvida, enfim, a opção francesa é de longe a melhor, principalmente por ser a mais segura em termos de transferência tecnológica e historicamente a mais produtiva como parceira econômica. Em termos diplomático-militares, de defesa do território, esses caças Rafale colocariam o Brasil numa posição mais confortável. Mas, certamente, aliando-se a uma frota de submarinos de ataque com propulsão nuclear, as Forças Armadas do Brasil será soberana no Atlântico Sul e na América Latina inteira, chegando até forçar nossos vizinhos a rever suas posições geoestratégicas.

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