quarta-feira, 2 de setembro de 2009

City of Quartz - L.A. [Edge city]


O destino de Los Angeles foi o de garantir a segurança da costa do Pacífico, o que define sua urbanização dispersa. Desde sua criação como El Pueblo de Nuestra Señora La Reina de Los Angeles de Porciuncula, em 1781, passando por sua acirrada concorrência com San Francisco pela hegemonia comercial e financeira, até a sequência desdobrada de guerras, não deixam de ser esforços para Los Angeles garantir o Pacífico. Destaca-se o Círculo de Sessenta Milhas que corta a costa sul na fronteira entre os condados de Orange e San Diego, perto de um dos principais postos de verificação para interceptar e regulamentar o fluxo de imigrantes que rumam para o norte. Os centros militares de resistência e segurança em Los Angeles distribuíam-se, em meado da década de 1980:

[1] o bastião nº 1 era a Base Naval de Camp Pendleton, cujos membros ajudaram a construir um complexo de alta tecnologia no norte do Condado de San Diego; [2] depois de sobrevoar os urzedos de Camp Pendleton, da Floresta Nacional de Cleveland, e do vital Aqueduto do Rio Colorado, que capta as águas vindas do leste, aterrissa-se no bastião nº 2, a Base Aérea March, adjacente a cidade de Riverside. O interior de March constituía um acessível posto avançado para o itinerante Comando Aéreo Estratégico; [3] a partir de um salto sobre Sunnymead, as montanhas Box Spring e Redlands levariam ao bastião nº 3, a Base Aérea Norton, junto à cidade de San Bernardino e logo ao sul da Reserva Indígena de San Manuel, quase deserta; [4] perto de Victorville encontrar-se-ia o bastião nº 4, a Base Aérea George, especializada em defesa e interceptação aérea; [5] levados através do seco Lago de Miragem até a gigantesca Base Aérea Edwards, o bastião nº 5, sede da NASA e das atividades de pesquisa e desenvolvimento da Força Aérea Norte-Americana, além de campo de pouso para ônibus espaciais. Estendendo-se para o sul ficava um corredor aeroespacial de Lancaster ao Aeroporto de Palmdale e à Fábrica 42 da Força Aérea, que atendiam à função histórica da base Edwards, servindo de campo de testes para caças e bombardeiros avançados; [6] o trecho seguinte é o mais sereno, sobrevoa o Vale dos Antílopes e o Aqueduto de Los Angeles, a Interestadual 5, uma longa faixa da Floresta Nacional de Los Padres e a Reserva do Condor Selvagem, chegando à cidade de Ojai e novamente ao Pacífico, na missão de San Buenaventura, no Condado de Ventura. Algumas milhas dali fica o bastião nº 6, um complexo que consistia na Base Aérea de Oxnard, que foi desativada, mas no Centro do Batalhão de Construção Naval do Porto de Hueneme e, acima de tudo, no Centro Naval de Mísseis Aéreos da Ponta Mugu.

Trata-se, sobretudo de uma extraordinária descoberta da produção industrial de Los Angeles, a partir da década de 1980, o Círculo de Sessenta Milhas possuiu um pólo de crescimento industrial: petróleo, laranjas, filmes e voos. Desde 1930, Los Angeles liderou todas as outras áreas metropolitanas dos EUA. No último meio século nenhuma outra área recebeu tantas verbas federais quanto Los Angeles, por meio do Ministério da Defesa e de projetos federais de subsídio ao consumo suburbano, ao desenvolvimento de habitação, transportes, abastecimento de água. Desde 1929 Los Angeles tornou-se uma cidade-prototípica: a ‘cidade estatal keynesiana’, demonstrando sua capacidade de multiplicar as verbas públicas investidas em sua paisagem econômica de destaque, segundo Edward W. Soja em seu livro “Geografias Pós-Modernas”, a Los Angeles da década de 1990 passou a se assemelhar, contudo a uma aglomeração gigantesca de parques temáticos, um espaço vital composto por Disneyworlds.

Los Angeles em um campo dividido em vitrinas de culturas de aldeia global e paisagens miméticas norte-americanas, centros comerciais que ‘vendiam de um tudo’ nas engenhosas ruas principais, reinos mágicos patrocinados por empresas, protótipos experimentais de comunidades do futuro, baseadas na alta tecnologia e lugares de repouso, de recreação, todos ajudavam a esconder com habilidade as esferas de atividade e os processos de trabalho que ajudaram a mantê-los juntos. Acontece que a era da informação introduziu uma nova forma urbana, a cidade informacional, de acordo com Manuel Castells em seu livro “A Sociedade em Rede” que, do mesmo modo que a cidade industrial não foi uma réplica de Manchester, a cidade informacional não será uma cópia do Vale do Silício, muito menos de Los Angeles.

Joel Garreau captou o núcleo de um novo processo de urbanização, as Edge City, que seriam qualquer lugar que: [a] teria 465 mil metros quadrados ou mais de espaço com escritórios de aluguel; [b] teria 56 mil metros quadrados ou mais de espaço para ser alugado por lojas varejistas; [c] teria mais empregos que dormitórios; [d] fosse percebido pela população como um lugar; [e] não se parecesse com uma ‘cidade’ de pelos menos cinquenta anos atrás. Destaca-se a proliferação desses lugares, a partir da década de 1990, ao redor do sul da Califórnia, da área da Baía de São Francisco, de Boston, Nova York, Detroit, Atlanta, Phoenix, Texas e Washington D.C. – são áreas de trabalho e centros de serviços ao redor dos quais quilômetros de unidades residenciais cada vez mais densas e de uma só família se ordenam numa vida particular centrada na casa. Percebem-se verdadeiras constelações que são ligadas nas áreas metropolitanas, não por trens ou por metrôs, mas por auto-estradas, corredores de acesso a aviões e antenas parabólicas de 9 metros de diâmetro nos terraços dos prédios. Fluxos de intercâmbio ainda não deixam de ser os componentes essenciais dessa espécie de Edge City [Cidade às Margens] norte-americana.

O perfil da Cidade Informacional norte-americana não é totalmente representado pelo fenômeno da ‘Edge City’, mas pela relação entre o desenvolvimento rápido das áreas metropolitanas, decadência dos centros das cidades e obsolescência do ambiente construído nos subúrbios. O ‘centro empresarial’ tornou-se o motor econômico da cidade em rede acionado à economia global e se baseia numa infra-estrutura de telecomunicações, comunicações, serviços avançados e espaços para escritórios baseados em centros geradores de tecnologia e instituições educacionais. O centro empresarial conta com os processamentos de informação e com as funções de controle para prosperar, em geral, completam-se por instalações de turismo e viagens. O centro empresarial é um nó da rede intermetropolitana, megacidade que se atribui o papel superior de dirigir, produzir e administrar por todo o planeta; o controle da mídia; a verdadeira política do poder; e a capacidade simbólica de criar e difundir mensagens. Elas têm nomes: Los Angeles, Tóquio, São Paulo, Nova York, Cidade do México, Xangai, Bombaim, Buenos Aires, Seul, Pequim, Rio de Janeiro, Calcutá, Osaka.

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