domingo, 6 de setembro de 2009

Tecnologia da Informação [TI] e Sweatshops


A ascensão do capitalismo financeiro pressupôs as chamadas ‘cidades globais’, Manhattan, Tóquio, Londres, Paris, Frankfurt, Hong Kong, que se tornaram ‘ilhas de riqueza e privilégios’, ‘guetos dourados’, como abrigo das finanças e das funções de comando, com imponentes arranha-céus e milhões de metros quadrados de escritórios para essas operações. Entre essas torres, o comércio cria um vasto campo de riqueza fictícia, enquanto os mercados especulativos de imóveis urbanos tornaram-se os principais mecanismos de acumulação. Houve ao lado disso, é inegável, uma extraordinária expansão das tecnologias da informação [TIs]. Na década de 1970 o investimento nesse campo não passava de 20%, mas em 2000 as TIs absorviam 45% dos investimentos. Foi assim que na década de 1990 anunciava-se ascensão de uma ‘nova economia da informação’, conforme David Harvey em seu livro “O Neoliberalismo: História e Implicações”. As tecnologias da informação são muito úteis ao neoliberalismo mais por desempenham atividades especulativas e maximizar o número de contratos no mercado de curto prazo do que para melhorar a produção. As indústrias culturais emergente ganharam também com isso, por usarem as TIs como base da inovação e do marketing de novos produtos, filmes, vídeos, videogames, música, publicidade, exposição.

Essas tecnologias da informação [TIs] foram amplamente estudadas, em termos político-militares, Paul Virilio analisou a ‘bomba informática’ e as ‘estratégias da decepção’ que suscita, sem deixar de redimensionar o ciberespaço como um ponto na trajetória de toda uma máquina de visão que surge como elemento policial na sociedade moderna, no mesmo meio em que se desencadeou a datiloscopia, a fotografia, o cinema e as tecnologias aeroespaciais; em termos histórico-sociais Manuel Castells pesquisou uma espécie de ‘genealogia da informação, desde a invenção do transistor em 1947, com a redefinição dos semicondutores através de velocidades cada vez mais rápidas, isto é, os chips como são usualmente denominados, até que se inventou o microprocessador, um computador com um único chip, em 1971, considerado o pai de todas as tecnologias depois da Segunda Guerra Mundial, auxiliando o impulso da microeletrônica, da optoeletrônica e das telecomunicações; em termos geoeconômicos, em “A Natureza do Espaço”, Milton Santos conceituou o ‘meio técnico-científico-informacional’, estabelecido por uma rede de fluxos que verticalizam as ações com suporte em objetos fixos, verdadeiras próteses nos territórios, capazes de conectar e interceptar ações provenientes de territórios distantes ou até mesmo comandos que partem dos centros de decisão e que precisam chegar aos capilares mais finos do aparelho produtivo, muitas vezes, do outro lado do mundo.

Deste modo, as habilidades informacionais se desenvolveram ao mesmo tempo em que se erigiu um paradoxo na economia neoliberal: a ‘economia informal’ expandiu em todo o mundo, na América Latina estima-se que tenha passado de 29% na década de 1980 chegando a 44% da população economicamente ativa na década de 1990. Desde a década de 1960 quase todos os indicadores globais de saúde, expectativa de vida, moralidade infantil mostram perdas em bem-estar. Foi nesse âmbito, do capitalismo neoliberal, que emergiu a figura prototípica do ‘trabalhador descartável’ ou uma forma moderna do trabalhador semi-escravo, os operários chamados ‘sweatshops’, que se complementa com os riscos à saúde, a exposição a uma ampla gama de substâncias tóxicas, a ausência de fiscalização ou regulamentação das condições de trabalho, imersos na flexibilidade dos mercados. Afinal, o capital é trabalho morto, vampiro que se anima ao sugar trabalho vivo e sua vida se alegra quanto mais trabalho vivo aspirar.

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