segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ecosofia e Autocolonização Amazônica


Sabe-se que uma política ecológica precisa, para que se torne eficaz, articular no mínimo três componentes ou aspectos, a ecosofia, conforme sublinhou Félix Guattari em seu livro “As Três Ecologias”: [1] Ecologia mental – a inserção ecológica da dimensão psicológica e individual; [2] Ecologia social – a configuração dos interesses sociais e regionais do desenvolvimento ecológico; [3] Ecologia natural – os aspectos físicos, químicos e biológicos intrínsecos ao ambiente natural. Não se trata de hierarquizar as esferas de análise, as estratégias ecológicas devem ser coerentes e impulsioná-las simultaneamente.
Produz-se e reproduz-se um discurso sobre as questões ecológicas que envolvem atualmente a Amazônia brasileira em torno de três problemas básicos. Em primeiro lugar, a Reforma do Código Florestal, que determina uma proporção de 80% da área florestal original que deve ser preservada pelos seus proprietários. Em segundo lugar, a reabertura da BR-319, que se torna preocupante por poder agravar um povoamento hostil ao meio ambiente. Em terceiro lugar, construções de usinas hidrelétricas que tem sido paralisadas por laudos do IBAMA.

Os problemas que se redundam, nestes três casos, estão praticamente circunscritos ao componente natural da ecologia, equivocamente, os aspectos ‘social’ e ‘mental’ acabam por ser punidos. Enquanto só os argumentos do Greenpeace e de mais meia dúzia de ONGs forem ouvidos; os diagnósticos de biólogos e outros dados científicos forem considerados; a força da lei das autoridades manterem sua crueza - paradoxalmente, a população amazônica vai continuar a superar os especialistas. Em outras palavras, infelizmente, não foi com leis de segurança ambiental nem com apoio científico que se preservou a Amazônia até hoje, porque além de floresta, ela é uma morada, como tal poderia ter sido gerida por normas racionais. Afinal, há apenas cinquenta anos que, no entanto, a região amazônica passa por tentativas de integração ao território nacional, impulsionada a partir da década de 1960 e das políticas do regime autoritário no Brasil. São 500 anos de exploração européia no território brasileiro e ainda possuímos tribos resistentes e florestas preservadas, mesmo se se considerássemos as mazelas da ‘autocolonização’ na Amazônia, como queimadas e extrativismo ilegal.

Autocolonização que se manifesta em todas as iniciativas governamentais para a região e toda a diversidade econômica que se imiscui na Amazônia. Não resta dúvida que se tem que punir quem destrói o meio ambiente, seja na floresta ou nas metrópoles. Mas é inegável, o mérito da manutenção das reservas naturais é da ‘população florestana’ e, contraditoriamente, mais uma vez, excluída do processo decisório e estrangulada por leis ideais ou ‘enforcement vazio’. Uma lei pode encher os olhos, mas também nos cega. Percebe-se de longe o equívoco da verticalização das estratégias ambientais que acabam por anular a horizontalização das táticas de sobrevivência. Portanto, trata-se de inverter essa lógica equivocada, na medida em que se substituir essas estratégias político-ecológicas de longo alcance, por táticas capazes de absorver ou repensar as práticas reais e cotidianas da sociedade e da cultura amazônica, quem sabe assim, uma normatização passaria a ter substância, vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário