sábado, 21 de março de 2009

Crash & Onicrisis


Uma crise como a que vivemos atualmente só não seria previsível se não estivéssemos atentos ao rumo do neoliberalismo norte-americano. A crise do petróleo, na década de setenta, deixou marcas profundas nas relações políticas e comerciais. A prática do capitalismo acabou se tornando economia de guerra e financeira. O império da bomba e do banco. Um país pode chegar aos excessos da indústria da guerra e do mercado financeiro, regulando a sua economia. Fabricar armas e adquirir financiamento nortearam toda uma população – vítimas da guerra e do crédito. Trata-se de dois modos improdutivos de se acumular capital. De um lado, Vietnam, Coréia do Norte, Iraque, Irã, Afeganistão e seus diversos bombardeios. De outro, Banco Mundial, BIRD, FMI e a ciranda financeira. A devastação foi ampla para a economia doméstica norte-americana, aspirando ser superpotência hegemônica após a queda do muro de Berlim e o enfraquecimento do socialismo no leste europeu. Da falência das empresas data.com (o embuste dos dólares fictícios em 1999) aos papéis podres nas mãos dos bancos em 2008 (o mercado imobiliário hipotecado), percebe-se um câncer nos interstícios da economia norte-americana, espraiando por todos os lados, do interior da ‘supernação’ às fronteiras globais. De outra forma, eclodem guerras contra o comunismo, contra o islamismo, guerra às drogas.

Houve, em meados do século XX, uma passagem do Imperialismo Colonial (Britânico e Francês) para o Império norte-americano. Após a Revolução Industrial inglesa, a necessidade de expandir mercados, conquistar territórios e explorar a mão-de-obra marcaram a colonização no século XIX na Ásia e na África. Com a expansão do modelo industrial, as colônias européias tornaram-se também industrializadas. Ao mesmo tempo, houve uma passagem de regime, afinal, antes predominava o modelo disciplinar com o Imperialismo europeu, com os Estados Unidos o regime da sociedade de controle prevalece. O pensamento francês da segunda metade do século XX descreveu e analisou essa passagem das disciplinas ao controle. Movimentos insurgentes e de resistência se rebelaram contra esse sistema disciplinar generalizado. O fordismo foi alvo de conflitos em muitas partes do mundo. No pós-guerra, entretanto, o processo de descolonização no Terceiro Mundo e, simultaneamente, o início da Guerra Fria deslocou o eixo da ordem mundial de norte-sul (Imperialismo) para leste-oeste (superpotências). O socialismo russo e o capitalismo norte-americano movimentaram uma corrida nuclear sem precedentes, armaram-se singularmente e guerrearam em pontos estratégicos.

Com o fim do socialismo, a superpotência norte-americana pensou-se finalmente hegemônica: fim da história, fim do Estado. Essa transição deixou marcas muito significativas, principalmente, no Oriente Médio, com a criação do Estado de Israel, território que era povoado pelo povo palestino. A indústria da guerra yankee chegou a criar estratégias para burlar sinais detectáveis por satélite, o avião-fantasma foi utilizado na primeira guerra do golfo, ele precipitava sua sombra antes de atravessar o campo eletromagnético. Afora as mudanças tecnológicas, os exercícios de guerra, a indústria militar e o local geográfico; trata-se de um deslocamento da face do inimigo, isto é, de um processo de identificação, de sujeição, subjetivação – o bode expiatório. Se no período da Guerra Fria o comunismo se identificava com o inimigo, o bode expiatório será, após o conflito, o islâmico. A alcunha de terrorista passa para o islâmico, herdada do socialista. O terrorista árabe possui táticas de resistência diferentes. A religião está em primeiro plano, enquanto o socialista crê no Estado forte, totalitário. Se a questão fosse apenas cultural e religiosa, não haveria tanto sangue derramado. A guerra santa é um elemento fundamental, mas não central. São poços de petróleo e um ponto estratégico do globo que se tornam o objetivo. A expansão hegemônica dos EUA pelo Oriente, através do Golfo Pérsico, não só contornam a Heartland como territorializa a democracia americana em torno dos recursos naturais ali existentes. A improdutividade da guerra chegou a extremos, enquanto países ex-colônias, no hemisfério sul do planeta, colidem forças e criam um extenso debate sobre sua produtividade. Fóruns Sociais Mundiais discutem a nova ordem mundial.

A Guerra no Oriente Médio, o 11 de setembro, o Antraz demonstram a fúria da paranóia de Bush. Os países do sul criam o G-20. O BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) torna-se centro nessa periferia global. A superpotência abriu diálogo. A crise fez dos países do sul os mais preparados para enfrentá-la, mas como fazer com os impactos da crise norte-americana, senão estatizar parte do sistema financeiro?

Nenhum comentário:

Postar um comentário